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ARTIGO - Lectio Divina, por uma espiritualidade da leitura do texto sagrado

Pe José Marcos Silva de Lima 

Diretor espiritual do Seminário de São Pedro


O mês de Setembro, na igreja do Brasil, é dedicado também a conscientização para uma leitura mais assídua da Bíblia. As comunidades cristãs se reúnem para celebrar a fé em torno da palavra de Deus. Isso se dá pelas reuniões de pastorais, círculos bíblicos, cursos sobre algum livro das sagradas escrituras, caminhadas etc. O sentido do mês da Bíblia é despertar todos os fiéis para um amor maior a palavra divina.

 

Na igreja católica desde os primeiros séculos existe uma prática de leitura do texto sagrado, que primeiramente foi muito valorizada pelos monges (eremitas e cenobitas), que longe do barulho da sociedade, no silêncio, se dedicavam com atenção à leitura das escrituras sagradas. São Bento de Núrsia, que sintetizou a vida monástica no equilíbrio entre a oração e o trabalho (ora et labora), normatizou a vida de oração basicamente com os salmos. Quando o monge salmodia, ele está cantando e saboreando a palavra de Deus.

 

O monge Guido II, na idade média, teve grande importância na melhor elaboração dos passos da chamada lectio divina, ou seja, leitura orante da palavra de Deus. Ele sintetizou este método em quatro degraus: leitura, meditação, oração e contemplação. Veremos agora ao que cada um desses graus diz respeito.

 

Não se lê a bíblia como um livro qualquer. Apesar dela ser um livro que contenha histórias, ela não é um livro de história científica. Apesar dela ter livros que falam sobre leis e decretos, não é um livro jurídico. Ela é acima de tudo um livro que fala de uma auto comunicação de Deus com seu povo escolhido e ao mesmo tempo, da tentativa desse povo de corresponder a essa comunicação, coisa que nem sempre aconteceu. Então, o primeiro degrau é fazer uma leitura atenta e pausada de um texto da bíblia, de preferência, os evangelhos. Uma forma simples é seguir o evangelho do Domingo, proposto pela igreja para as liturgias dominicais.

Segundo degrau é meditar o que está sendo lido. E meditar significa interiorizar o texto deixando que ele ressoe no coração, se perguntando o que o texto me diz. O terceiro degrau é orar com o texto. A leitura atenta e meditada me leva à oração. Orar é entrar em diálogo com a palavra. Deus está se comunicando comigo, por isso, do meu coração brota o louvor em forma de oração. E o último degrau, nesta formulação de Guido II é a contemplação. Contemplar é ver a ação de Deus na história e na minha vida particular. É o agir de Deus em mim e em todas as coisas existentes.

 

Uma lectio divina bem festa e na perspectiva da fé me leva a enxergar o mundo como obra de Deus. Me torno assim cooperador de Deus em toda a sua obra, e me situo no mundo como reflexo do meu criador que pela sua palavra se comunicou a mim. Ele espera de minha parte uma correspondência ao seu chamado. A lectio divina nos ensina que a felicidade reside na escuta de Deus que me ama com


predileção e que diante dessa escolha, eu não posso senão, assim como a Virgem Maria dá o meu sim, para que a sua vontade se presentifique na minha vida.

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