Dom Jaime Vieira Rocha
Arcebispo de Natal
Estamos no Tempo do Advento e a solenidade da Imaculada Conceição se insere no mistério da vinda do Filho eterno que se faz Homem no seio virginal de Maria. Celebramos a Solenidade da Imaculada Conceição de Maria e adoramos o mistério da preparação da vinda do Senhor. Sim, se o Advento é tempo de preparação para o Natal, a Imaculada Conceição significa que Deus preparou uma “Mulher”, para ser a primeira casa, o primeiro lugar da morada do Senhor.
O dogma da Imaculada Conceição foi proclamado em 1854, pelo Papa Pio IX, com a Bula Innefabilis Deus. Ela se apresenta como “singular graça e privilégio divino, em vista dos méritos de Jesus: “Para a honra da santa e indivisa Trindade, para adorno e ornamento da Virgem Deípara... com a autoridade do nosso Senhor Jesus Cristo, dos bem-aventurados apóstolos Pedro e Paulo e nossa, declaramos, proclamamos e definimos: a doutrina que sustenta que a beatíssima Virgem Maria, no primeiro instante de sua conceição, por singular graça e privilégio do Deus onipotente, em vista dos méritos de Jesus Cristo, Salvador do gênero humano, foi preservado imune de toda mancha da culpa original, é revelada por Deus e por isso deve ser crida firme e constantemente por todos os fiéis” (DENZINGER-HÜNERMAN, 2803).
Na história do dogma da Imaculada Conceição encontramos escolas teológicas que se dividiam sobre afirmar ou não tal verdade de fé. Os escotistas (os que seguiam os ensinamentos do Beato João Duns Scotus, 1266-1308) defendiam a doutrina, principalmente a partir dos escritos de Duns Scotus, que afirmava a Imaculada Conceição como consequência da doutrina da redenção perfeita. Cristo redime a humanidade e isso atinge a realidade da Virgem Maria. E essa doutrina é expressa na própria Bula de proclamação do dogma.
O significado do dogma é este: por causa da missão de Maria, escolhida para ser a Mãe do Verbo Encarnado, ela é o exemplo claro e concreto da “predestinação”, isto é, Deus a prepara para essa missão. E ela recebe, de modo pleno, a redenção realizada pelo seu Filho. Não se pode esquecer que o seu Filho, Verbo feito carne, é o Filho eterno de Deus, pelo qual tudo foi criado, por meio de quem a graça e a ação divina aconteceram na vida e na história dos homens e das mulheres. Ser preparada por Deus, ser predestinada não significa que ela, Maria, não tinha liberdade. Pelo contrário, a graça de Deus realizou nela o significado da liberdade cristã: somos livres quando aceitamos que se realize em nós o que foi predestinado por Deus.
Celebrar a Imaculada Conceição nos faz ver como as verdades de fé dizem sempre respeito ao nosso ser em Cristo. As verdades de fé são verdades salvíficas, inclusive as relacionadas com a vida e a missão da Virgem Maria. Elas têm um cunho antropológico formidável, a partir do momento que estão sempre na relação e na dependência do mistério de Cristo e dizem sobre a graça que nos envolve (assim sustenta o Concílio Vaticano II quando, na Constituição dogmática sobre a Igreja, Lumen gentium, trata o tema da Mariologia, como um dos seus capítulos, intitulando-o “A Bem-aventurada Virgem Maria no mistério de Cristo e da Igreja” – cap. VIII): “Por isso, o sagrado Concílio, ao expor a doutrina acerca da Igreja, na qual o divino Redentor realiza a salvação, pretende esclarecer cuidadosamente não só o papel da Virgem Santíssima no mistério do Verbo encarnado e do Corpo místico, mas também os deveres dos homens resgatados para com a Mãe de Deus, Mãe de Cristo e Mãe dos homens, sobretudo dos fiéis”. O Concílio afirma sobre a Virgem Maria: “aquela que na santa Igreja ocupa depois de Cristo o lugar mais elevado e o mais próximo de nós” (Lumen gentium, n. 54).
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