ARTIGO - Movimento de Natal: A juventude de uma história viva
- pascom9
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Por Ir. Vilma Lúcia de Oliveira, FDC
Historiadora e Professora
Essa imagem patrística, escrita entre os anos 142 e 155 d.C., em “O Pastor de Hermas”, não é apenas poética — é profética: “A Igreja é aquela velha Dama que sempre se rejuvenesce”. Ela nos ajuda a compreender que a Igreja, mesmo carregando séculos de história, continua a se renovar diante das necessidades do tempo presente.
O que o Diácono Márcio Azevêdo, do Clero de Caicó - RN chamou de “Novo Movimento de Natal” é, na verdade, uma atualização histórica de um legado que nunca deixou de existir. Como historiadora, reconheço que a força desse movimento não está em sua novidade, mas em sua capacidade de se reinventar sem romper com suas raízes. A Igreja que está em Natal tem sido, desde os tempos coloniais, protagonista na promoção da educação como instrumento de dignidade e transformação social.
O chamado “Novo Movimento de Natal” é, na verdade, uma atualização histórica de um legado, do Movimento de Natal, que nunca deixou de existir.
Esse protagonismo não surgiu por acaso. A fundação da cidade de Natal, em 1599, já trazia consigo o selo da fé cristã. A Antiga Catedral, construída em 1619, foi palco de resistência espiritual e cultural durante a invasão holandesa, quando se tornou templo calvinista e, posteriormente, símbolo da retomada católica. Mártires como o Padre André de Soveral e o leigo Mateus Moreira, mortos nos massacres de Cunhaú e Uruaçu, são testemunhos vivos da fé que educa, resiste e transforma.
Desde os tempos coloniais, a Igreja que está em Natal tem sido protagonista na promoção da educação como instrumento de dignidade e transformação social. Dos jesuítas, passando pelo Miguel Joaquim de Almeida e Castro, nascido em Natal, conhecido como Frei/Padre Miguelinho ao Padre João Maria, Cônego Monte, das ordens religiosas à fundação da Escola de Serviço Social, da Escola de Contabilidade, cooperativas às escolas radiofônicas, a ação educativa da Igreja Católica potiguar sempre esteve na vanguarda da formação humana. A inserção de presbíteros nas Universidades, a atuação em comunidades periféricas e a defesa da educação pública são capítulos de uma história escrita com coragem e compromisso.
O Seminário realizado em 28 de agosto de 2025, com cerca de 500 participantes, reacende uma missão. Inspirado pelo Pacto Educativo Global do Papa Francisco, representa uma retomada consciente da vocação educativa da Igreja. A proposta do Pacto Educativo Estadual responde às urgências do nosso tempo: inclusão, ética digital, saúde mental, educação patrimonial através da preservação e conservação dos Bens Culturais, a cultura da paz e cuidado com a casa comum.
Mais que simbólica, essa atualização é metodológica, política e pastoral. Ao adotar o método da Ação Católica — ver, julgar e agir — o seminário reafirma a pedagogia da escuta, da análise crítica e da ação transformadora. A escolha de Angicos como sede da próxima etapa é emblemática: foi ali que Paulo Freire aplicou seu método libertador, e é ali que podemos reacender o sonho de uma educação emancipadora.
Com sua capilaridade e credibilidade, a Igreja pode ser ponte entre instituições, comunidades, gestores públicos e o povo. Sem distinção de credo ou partido, pode promover assembleias, encontros e pactos municipais que fortaleçam a educação como direito e dever de todos e todas. A Constituição Federal, de fato e de direito, já reconhece essa colaboração da sociedade — inclusive das instituições religiosas.
O Movimento de Natal não é uma ruptura, mas uma expressão viva da juventude espiritual da Igreja. Como dizia Santo Irineu: “A glória de Deus é o homem vivo.” A educação é caminho de vida, de visão e de glória.
O que vivemos hoje é uma atualização histórica de um projeto civilizatório que honra o passado, transforma o presente e inspira o futuro. Que a proposta deste Pacto seja acolhida por homens e mulheres de boa vontade, como nos exorta a Doutrina Social da Igreja. Que possamos, juntos (as), construir um Rio Grande do Norte mais humano e mais justo, inclusivo e educador.
A história está sendo escrita. E a escolha de fazer parte dela é nossa.