Discurso do Arcebispo em sessão solene na Assembleia Legislativa
- pascom9
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A Assembleia Legislativa do Rio Grande do Norte realizou uma sessão solene, na manhã desta quinta-feira, 16, em memória do Servo de Deus Padre João Maria Cavalcanti de Brito, o “anjo da caridade”. Na ocasião, foram homenageados a Arquidiocese de Natal, Cônego José Mário de Medeiros, Dom Heitor de Araújo Sales, Dom Matias Patrício de Macêdo, Dom Jaime Vieira Rocha, Frei Jociel Gomes, Monsenhor Francisco de Assis Pereira (in memoriam) e a Paróquia de Nossa Senhora de Lourdes, em Petrópolis.
A homenagem, que uma preposição dos Deputados Estaduais Ezequiel Ferreira e José Dias, aconteceu no Plenário Clóvis Motta, na sede da Assembleia Legislativa, na data em que são completados 120 anos da morte do Padre João Maria.
Confira, abaixo, o discurso do Arcebispo Metropolitano Dom João Santos Cardoso proferido durante a sessão solene:
SESSÃO SOLENE DA ASSEMBLEIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE
Em memória dos 120 anos da morte do Padre João Maria Cavalcanti de Brito
Natal, 16 de outubro de 2025.
Excelentíssimo Senhor Deputado Ezequiel Ferreira, Presidente da Assembleia Legislativa,
Excelentíssimo Senhor Deputado José Dias, propositor desta Sessão Solene, a quem agradeço a nobre iniciativa,
Senhores Deputados,
Autoridades civis e eclesiásticas,
Senhoras e senhores,
Reunimo-nos hoje neste espaço representativo do povo potiguar para celebrar a memória de um homem cuja vida se tornou patrimônio espiritual e moral do nosso Estado: o Padre João Maria Cavalcanti de Brito, o Anjo da Caridade. Sua lembrança permanece viva não apenas como símbolo religioso, mas como inspiração ética e social para as novas gerações.
Há exatos 120 anos, em 16 de outubro de 1905, o Padre João Maria encerrou sua caminhada terrena no Alto do Juruá, em Natal. Já debilitado pelo diabetes e extenuado pelo serviço aos enfermos, acabou contraindo a varíola enquanto prestava assistência espiritual e material às vítimas da epidemia que assolava a cidade. Mesmo diante da doença e da fadiga, permaneceu fiel à missão de servir, distribuindo remédios, consolo e esperança aos mais pobres. Sua morte foi um ato supremo de fidelidade, o coroamento de uma vida inteiramente dedicada ao amor e à caridade. Por isso, o povo o reconheceu, com espontânea devoção, como o “Santo de Natal”.
Mais do que um sacerdote exemplar, João Maria foi um homem de cultura e de fé lúcida, atento aos sinais do seu tempo. Ao fundar o jornal O Oito de Setembro, em 1897, uniu evangelização e comunicação, informação e formação, fé e razão, revelando que a palavra escrita também pode ser um instrumento de conversão e transformação social. No contexto de um século marcado por privações e mudanças, ele foi um profeta da esperança, capaz de interpretar e buscar respostas para a dor do povo à luz do Evangelho.
O Padre João Maria soube transformar o altar em ponto de partida para a vida e a cidade. Sua espiritualidade, enraizada na Eucaristia, o impelia à ação concreta: cuidar, ensinar, consolar, reconciliar. Seu testemunho nos ensina que a santidade não se mede por obras extraordinárias, mas pela capacidade de amar com gestos simples e constantes.
O amor e a devoção do povo, manifestos desde o falecimento do Padre João Maria, amadureceram nossa convicção de que ele viveu de forma heroica as virtudes cristãs. Essa fé simples e perseverante levou a Igreja a reconhecer oficialmente o seu testemunho.
Concluída em 2024 a fase diocesana da Causa de Canonização, toda a documentação foi encaminhada a Roma, onde o processo segue em andamento junto ao Dicastério para as Causas dos Santos. A Irmã Elsa Orque acompanha diretamente os trâmites, aguardando a aprovação oficial para o início da Positio, documento que apresentará à Santa Sé a vida, as virtudes e a fama de santidade do Servo de Deus. O trabalho será conduzido pelo Frei Jociel, designado postulador e redator da Positio, em colaboração com o Relator nomeado pelo Dicastério.
Esses avanços confirmam que a causa de sua canonização caminha com passos consistentes, sustentada pela fé e pela devoção do povo potiguar ao seu querido Anjo da Caridade.
Esses passos confirmam o que o povo já reconheceu há mais de um século: que João Maria viveu o Evangelho até as últimas consequências.
Celebrar esta sessão é, portanto, um gesto de gratidão da sociedade potiguar àquele que fez da fé serviço e da caridade sua vocação. Sua figura continua a interpelar a Igreja e o poder público a unir forças em favor da vida, da justiça e da dignidade humana.
Que o exemplo do Padre João Maria nos inspire a cultivar uma fé que se torna serviço e uma caridade que transforma o mundo. Muito obrigado!
Dom João Santos Cardoso
Arcebispo Metropolitano de Natal