top of page

ARTIGO - O ódio aos pobres

  • pascom9
  • há 11 minutos
  • 4 min de leitura

Diác. Paulo Felizola

Paróquia de Nossa Senhora do Ó – Nísia Floresta

 

No dia 12 de abril de 2025, na Universidade Harvard, nos Estados Unidos, o economista e ex-presidente do Banco Central do Brasil, o Sr. Armínio Fraga defendeu o congelamento do salário mínimo por seis anos (não realizar o aumento real, apenas reajustar o valor pela inflação do ano anterior), como uma medida fundamental para melhorar as contas da Previdência Social, que, segundo ele, pioram de forma assustadora. Na defesa de sua proposta, Fraga vai além e defende que sua ideia é espetacular para os pobres, pois no médio e longo prazo os juros iriam reduzir e novos investimentos seriam realizados.

Na verdade, essa proposta elitista do Sr. Armínio Fraga, um milionário ligado à elite financeira brasileira, está, simplesmente, dizendo que, como o responsável pela crise da previdência e do setor público brasileiro são os pobres, por serem o objeto, como classe, de um certo assistencialismo, a eles, aos pobres, cabe a responsabilidade de arcar com o sacrifício necessário ao restabelecimento das contas públicas, na medida em que, propor o congelamento do salário mínimo é propor, também, o congelamento do piso das aposentadorias e de outros benefícios previdenciários, como o abono salarial, o BPC (Benefício de Prestação Continuada) e o Bolsa Família...., condenando a população mais pobre a perder o poder de compra, provocando uma queda no consumo e, consequentemente, na arrecadação e, como num efeito dominó, terminaria por aumentar o nível do desemprego.

O elitismo financeiro do Sr. Fraga o obriga atacar o salário mínimo, o principal instrumento de distribuição de renda e combate à desigualdade no Brasil, assim como omitir que a origem do desequilíbrio fiscal brasileiro, não está na Previdência, mas no que pagamos, a título de juros da dívida pública que, segundo estimativas, deve alcançar a marca de R$ 1 trilhão de reais em 2025, valor esse semelhante ao que será gasto pela Previdência. Vale ressaltar que todo esse valor irá ser abocanhado por, apenas, 181 mil pessoas com aplicações financeiras ligadas à dívida pública, enquanto, por outro lado, os benefícios previdenciários vão para milhões de brasileiros e brasileiras. Na crença desse elitismo financeiro tosco, o pagamento de juros é sagrado e, sobre o qual, não deve haver discussão. Cancelar o pagamento de juros é pecado sem perdão assim como, toda e qualquer ação que vise a inclusão dos mais pobres, como as despesas com a Previdência e os programas e benefícios sociais, são tidas como ações ou políticas demoníacas.

Em síntese, nas condições atuais da economia brasileira, o reajuste real do salário mínimo vem desempenhando um papel fundamental na melhoria das condições de vida de milhões de brasileiros, na medida em que tem contribuído para a redução das desigualdades sociais e regionais e estimulando a atividade econômica no país. Portanto, criticar essa medida é, na prática, atingir diretamente as camadas mais vulneráveis e trabalhadoras da população ou dito de outra forma, é opor-se, explicitamente, à inclusão dos pobres, tidos como ignorantes e apoiadores de corruptos que, com prática populista, os mantem sobrevivendo presos nos currais eleitorais. Consequentemente, se passarmos pelo crivo socioantropológico esse escorraçar os pobres camuflado sob a alegação de combater a corrupção para resgatar a moralidade pública, nos deparamos com o mais agressivo câncer que viceja em nosso País: a moralização do racismo.

Racismo e veneno para o povo é o que nos é dado pelas elites, em especial pela elite financeira, esta sim, que usando uma classe média branca e alienada e uma mídia submissa, pratica a grande e real corrupção ao impor ao estado brasileiro um sangramento letal de recursos públicos via altas taxas de juros.

Apenas para ilustrar o que estamos argumentando, cito o ocorrido em 19/05/2025, quando a FEBRABAM (Federação Brasileira dos Bancos), em nome de todos os banqueiros, foi ao Parlamento Brasileiro levar o recado de que eles, os banqueiros não arcarão com a compensação da isenção do Imposto de Renda aos 10 milhões de brasileiros que têm ganho mensal de até R$ 5 mil. Essa desoneração dos que ganham até R$5 mil, segundo o Projeto de Lei 1.087/25, deverá ser compensada com a taxação dos que ganham acima de R$ 50 mil, (13% dos contribuintes) e pela elevação da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido paga pelo setor financeiro. Além do propósito de não arcar com a compensação do IRPF, os banqueiros se sentiram à vontade para ameaçar a todos nós brasileiros com a redução no volume de crédito, o que elevará, ainda mais, o custo do investimento no Brasil e, consequentemente, o desemprego.

O povo precisa saber e entender, portanto, quem é o seu inimigo e esse inimigo, aquele que não tem o menor apreço pela vida dos pobres, é a elite financeira racista que tem endereço comercial na Av. Brigadeiro Faria Lima, na cidade de São Paulo.

Portanto, assim como fez Jesus, que não apenas confortou os pobres, mas que, com coragem, determinação e fidelidade ao Pai, combateu todo o sistema político/religiosa que empobrecia e escravizava homens e mulheres de seu tempo, é preciso que não nos acomodemos, mas, com fidelidade ao evangelho e à Igreja, denunciemos e combatamos essa ideologia racista estrutural até que os soberbos sejam dispersos, os poderosos sejam derrubados de seus tronos e os humildes sejam elevados; até que os famintos sejam fartos e os ricos sejam despedidos de mãos vazias.[i]

 


[i] Lucas 1,51-53

 
 
bottom of page