ARTIGO - Um observatório estadual de educação
- pascom9
- há 2 horas
- 4 min de leitura

Pe. Matias Soares
Pároco da paróquia de Santo Afonso Maria de Ligório - Conj. Mirassol - Natal-RN
Coordenador da Comissão de Cultura e Educação da Arquidiocese
Capelão da UFRN
A Arquidiocese de Natal, na pessoa do seu Arcebispo, Dom João Santos Cardoso, está trabalhando para aplicar os princípios do Pacto Educativo, pensado pelo Papa Francisco, de saudosa memória, tendo em vista a promoção de uma ampla luta pela educação, que seja integral e inclusiva para todos os norte-rio-grandenses. Para isso, tem buscado parcerias com outras instituições e sujeitos sociais que tenham propósitos comuns, tendo em vista o bem de toda a sociedade. A Igreja, como nos ensinava, o próprio Francisco e, agora, Leão XIV, é chamada a ser “ponte”; ou seja, promover o diálogo entre todos, com respeito às diferenças e buscando o desenvolvimento de cada ser humano. O processo educativo é a via civilizacional para que possamos avançar num autêntico progresso dos povos, na solicitude pela dignidade de cada ser humano e no cuidado da nossa casa comum, na promoção de uma paz duradoura como fruto da justiça social.
O magistério do Papa Francisco foi riquíssimo em nos oferecer luzes para que possamos pautar temáticas para o fomento de um “novo humanismo”, que tenha nos fundamentos da Doutrina Social da Igreja, na Declaração Universal dos Direitos Humanos e na nossa Constituição Federal orientações epistemológicas e normativas fidedignas a serem recepcionadas e interpretadas à luz de cada contexto social, histórico e geográfico. A Igreja, como “perita em humanidade”, não pode deixar de levar a bom termo a dimensão social da sua ação evangelizadora (cf. Compêndio da DSI, Introdução). Esse modo de ver a humanidade na sua totalidade – corpo, psique e espírito – faz parte da sua construção antropológica ao longo da sua Tradição Viva. A partir dessa visão integral e integradora do ser humano é que a sua ação pastoral ganha forma e segue caminhos, nem sempre alcançados por quem tem um olhar reducionista e mecanicista da condição humana, como acontece amiúde pela mentalidade pós-humanista. O processo educativo pensado pela Igreja segue pela trilha desse novo humanismo – integral e solidário – e não dispensa nenhum ser humano, desde à sua concepção até o seu fim natural. Os fundamentos para que tenhamos uma consciência clara dos caminhos que precisamos percorrer são claros e podem ser os marcos civilizatórios para que possamos fazer um trabalho permanente, aplicado e amplo à definição da educação como uma causa apaixonada a ser sistematicamente sonhada e adquirida para todos.
Pensando assim e considerando as metodologias que estão a ser desenvolvidas com a proposta do “pacto educativo estadual”, podemos veicular e estruturar, com a participação de entidades que tenham condições científicas, como também outras que possam coletar as demandas e capilarizar as propostas, o “observatório estadual de educação”. Esse seria um órgão colegiado e participativo que, com a coordenação das universidades, públicas e privadas, assumiria a responsabilidade de monitoramento, acompanhamento, pesquisa e aprimoramento de projetos e iniciativas, que potencializariam a educação em nosso Estado. Esse seria composto por membros indicados pelas instituições que assinam e assumem o “pacto educativo estadual”. Não teria uma demarcação ideológico partidária; mas antes de tudo, “a paixão pela educação”, a prioridade política e um projeto comum de avanços urgentes que precisam ser assumidos por todos os homens e mulheres, instituições e lideranças potiguares que, verdadeiramente, têm preocupação com o bem coletivo e a justiça social.
O observatório estadual de educação poderá ser uma das tantas iniciativas a serem implementadas pelo pacto educativo estadual. Se quisermos avançar nesta luta, não podemos retardar, nem nos prender às auto-referencialidades, aos narcisismos, nem às polarizações ideológicas. Por isso, essa luta tem que ser acolhida como uma “causa nobilíssima”. Não pode ser uma responsabilidade só de alguns; mas de todos. Todos pela educação. Todos pelo pacto educativo estadual. O observatório estadual seria um ponto de confluência, onde os entes sociais poderiam estar representados; mas, com objetivos bem definidos e perspectivas bem delineadas já na composição do objeto, metodologias e finalidades do órgão. Com uma roupagem mais democratizada e academicamente bem orientada, esperamos ter nesta instancia, um órgão que pudesse nos apresentar e propor permanentemente estudos, pistas de ação sérias e bem fundamentadas, compromissos com a verdade e a educação como direito fundamental para todos.
No Brasil, já temos muitas destas experiências em áreas diversas do conhecimento, tendo em vista o aprimoramento de determinadas demandas sociais e organizacionais. Este observatório estadual terá a grande e desafiadora tarefa de nos apresentar proposições e questões relevantes, que possam auxiliar os entes federativos e demais instituições a tratarem a educação em nossa realidade norte-rio-grandense como um objeto primoroso a ser perseguido por todos que precisam assumi-lo com profunda vontade política. Isso é possível e urgente, considerando os números emergentes da educação em nosso Estado. Se quisermos que a nossa aliança pela educação galgue passos significativos, temos que nos empenhar e fazer tudo com muita seriedade e compromisso com o bem comum. Essa deve ser a intenção de todos e prioridade para todos os adeptos institucionais do pacto educativo estadual. Assim o seja!