ARTIGO - Falar com caridade
- pascom9
- 19 de mai.
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Diácono Paulo Gabriel Batista de Melo
Capelania Nossa Senhora do Loreto - Ordinariado Militar do Brasil – Parnamirim (RN)
Aprendemos no Evangelho “que a boca fala do que está cheio o coração” (Cf. Lc6, 45), logo devemos proclamar as verdades santas do Evangelho, que como luz deve brilhar para o mundo restaurando o pecador, exortar o erro é uma obrigação para que não se perca nenhuma alma, mas se deve na mesma medida acolher com caridade.
Os membros ordinários da igreja são chamados a ser ‘pregadores da verdade’ como afirmou Dom Marcony Vinícius Arcebispo do Ordinariado Militar do Brasil em Carta Exortativa sobre as comunicações, mas deve também a caridade se fazer presente como afirmou o apóstolo das missões, São Paulo, “ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, se não tivesse caridade, eu seria como um bronze que soa ou símbalo que retine” (Cf. 1 Cor 13, 1).
Hoje vivemos em um tempo que as palavras pesam como nunca, em um mundo de valores tão desencontrados, as vezes o falar se torna um risco, escrever ainda mais, em especial se alguém se julgar ofendido, por isto devemos ter a simplicidade das pombas como disse o mestre (CF. Mt 10, 16), mas ser astutos como as serpentes, e pedir a Deus que nos livre de todo mal e dos embaraços do inimigo.
Obviamente não se deve deixar de anunciar a verdade, nem mesmo para agradar o mundo, mas, ter sabedoria, humildade e em especial ter compaixão, assim como Jesus acolhia, devemos nós também acolher, mas “corrigir com caridade”, nos ensinava o Padre Limdemberg, reitor de nossa escola diaconal em 2008, que muito nos ensinou sobre a verdade e a caridade.
Nos alerta Dom Marcony Vinícius, com base no documento pontifício ‘Ética nas comunicações sociais’, somos pastores de almas para ganhar almas a Deus e não para perdê-las, Jesus encantava santos e pecadores e todos gostavam de sua presença, pois como o jardineiro encontrado com Maria Madalena Ele sabe o que se pode tornar o jardim mais ressequido, pois enxerga o que podemos ser e não o que somos, inclusive o nosso pecado.
Também no “DISCURSO DO SANTO PADRE LEÃO XIV AO REPRESENTATIVOS DOS MEDIA” REALIZADO EM 12 DE MAIO DE 2025, ele nos exortava que “no Sermão do Monte, Jesus proclamou: “Bem-aventurados os pacificadores” ( Cf. Mt 5, 9), o mundo já tem guerra demais, o nosso chamado é para a paz, como sempre dizia o mestre “a paz esteja convosco”, nós precisamos mais do que nunca de paz, o mundo precisa de paz.
Nos diz o Santo Padre Leão XIV que “esta é uma bem-aventurança que desafia todos nós”. A paz deve começar com cada um de nós em nossas casas e no trabalho, “no modo como olhamos para os outros, ouvimos os outros e falamos dos outros”.
A liberdade de pensamento, de ir e vir é sagrada e cabe a todos nós não permitir que as vozes sejam caladas, não se pode permitir isto, por isto o Santo Padre Leão XIV nos disse: “permitam-me, portanto, reiterar hoje a solidariedade da Igreja com os jornalistas que estão presos por procurarem denunciar a verdade”, porque a verdade é Jesus, e pediu veementemente “e com estas palavras peço também a libertação destes jornalistas presos. [grifo nosso]
O serviço jornalístico, deve ser pautado pela verdade, como Jesus o faria, e eles não devem ser exilados, presos e castrados os seus direitos de falar, por isso, nos lembra o Santo Padre Leão XIV: “a Igreja reconhece nestas testemunhas a coragem de quem defende a dignidade, a justiça e o direito das pessoas a serem informadas, porque só as pessoas informadas podem fazer escolhas livres”, a ignorância só produz sofrimento e dor.
A profissão alegra aquele que a ama, querer suprimir de alguma forma, aqueles que com amor fazem seus trabalhos, é lhes causar dor e sofrimento, logo, “o sofrimento destes jornalistas presos desafia a consciência das nações e da comunidade internacional Obrigado, queridos amigos, pelo seu serviço à verdade”, nos diz o Santo Padre Leão XIV.
Vivemos em mundo da Inteligência Artificial, da comunicação na velocidade data link e em tempo real, a velocidade que se produz a informação é de assustar, “estamos vivendo em tempos que são difíceis de navegar e de recontar. Eles apresentam um desafio para todos nós, mas é um que não devemos fugir. Pelo contrário, exigem que cada um de nós, nos nossos diferentes papéis e serviços, nunca ceda à mediocridade”, nos lembra o Santo Padre Leão XIV.
A responsabilidade do mundo ser bom, perpassa por todos nós, na aceitação da diferença do discurso do outro, Deus nos fez diferentes e esta é a maior riqueza, também o disse Santo Agostinho para que “Vivamos bem e os tempos serão bons. Nós somos os tempos” (Discurso 80.8). Portanto, nos lembra o Santo Padre Leão XIV, “promover a comunicação que pode nos tirar da “Torre de Babel”, na qual às vezes nos encontramos, da confusão de linguagens sem amor que muitas vezes são ideológicas ou partidárias”.
Na “HOMILIA DO PAPA LEÃO XIV”, da Santa Missa celebrada com os cardeais em 9 de maio de 2025, realizada na Capela Sistina, o Santo Padre Leão XIV também nos faz refletir o magistério petrino, ao dizer que “na sua resposta, Pedro compreende ambas as coisas: o dom de Deus e o caminho a percorrer para se deixar transformar, dimensões inseparáveis da salvação, confiadas à Igreja para que as anuncie a bem da humanidade”.
O anúncio do Evangelho foi a nós confiado, e nós ordinários de sua igreja e por seu chamado, ainda antes de “sermos formados no ventre materno (cf. Jr 1, 5)”, e também “regenerados na água do Batismo e, apesar dos nossos limites e sem mérito nosso, conduzidos até aqui e daqui enviados, para que o Evangelho seja anunciado a toda a criatura (cf. Mc 16, 15)”, muitas vezes não o anunciamos, ou não o anunciamos como deveríamos, sem iluminação interior até mesmo a filosofia e a teologia são um perigo, nos lembrava o Padre Zezinho em suas belas canções, em especial ao dizer que “filosofia não me deu felicidade”.
Remontando os Padres da Igreja, dentre eles “Santo Inácio de Antioquia (cf. Carta aos Romanos, Proémio), um dos maiores filósofos de todos os tempos depois de Jesus, “ele, enquanto era conduzido como prisioneiro a esta cidade, lugar do seu iminente sacrifício, escrevia aos cristãos que aqui se encontravam: «Então serei verdadeiro discípulo de Jesus, quando o meu corpo for subtraído à vista do mundo» (Carta aos Romanos, IV, 1)”, no lembra com carinho o Santo Padre Leão XIV.
Nos lembra o santo padre as diretrizes de seu pontificado, em especial quando mostrou a “Exortação Apostólica Evangelii gaudium, da qual gostaria de sublinhar alguns pontos fundamentais: o regresso ao primado de Cristo no anúncio (cf. n. 11)”. Anunciar é uma obrigação a todo cristão. Anunciar a verdade ainda que sob risco de morte é a causa dos principais santos e mártires da Igreja, fundada sob o sangue dos mártires, mas sempre lembrando que Jesus veio para salvar e não para condenar.
Fazendo uma exegese bíblica, o santo padre diz: “Deus gosta de se comunicar, mais do que no estrondo do trovão e do terremoto, no «murmúrio de uma brisa suave» (Cf. 1Rs 19, 12) ou, como alguns traduzem, numa leve voz de silêncio”. Por isso, buscar encontra-se com o outro aonde quer que ele esteja é uma necessidade premente da evangelização, vejamos:
“Este é o encontro importante, a que não se pode faltar, e para o qual devemos educar e acompanhar todo o santo Povo de Deus que nos está confiado”.
Também Dante Alighieri em Paraíso, Canto V, versos 7-12, pag 33, nos revela o bem que é ter a liberdade:
O mor bem que ao universo Deus doara
O que indicara mais sua bondade
O que em preço mais alto avaliara,
Foi do querer, por certo, a liberdade
Que toda criatura inteligente
Há dado em privativa faculdade
Também prevista nos DH – Direitos Humanos, e até mesmo no 5º Artigo Constitucional como um direito Pétreo, e que não pode ser absolvido por qualquer motivo que seja, onde afirma que a liberdade de expressão é garantida não somente pelo artigo 5º, mas também pelo inciso IX, da Constituição Federal. Estabelece o mesmo que "é livre a manifestação do pensamento, a criação, a expressão e a informação, sob qualquer forma e por qualquer meio, sendo vedada a censura ou licença".
REFERÊNCIAS
Dante Alighieri. Divina comédia. Paraíso, Canto V, versos 7-12, pag 33. São Paulo: Pricipis, 2000.
DISCURSO DO SANTO PADRE LEÃO XIVAO REPRESENTATIVOS DOS MEDIA. Segunda-feira, 12 de maio de 2025. Disponível em
HOMILIA DO PAPA LEÃO XIV Sexta-feira, 9 de maio de 2025. Disponível em
AUDIÊNCIA AOS MEMBROS DO COLÉGIO CARDINALÍCIO. DISCURSO DO PAPA LEÃO XIV. Sábado, 10 de maio de 2025. PRIMEIRA VEZ NA HISTÓRIA DA IGREJA QUE O PAPA REÚNE CARDEAIS APÓS CONCLAVE. Disponível em