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ARTIGO - Da humildade à perseverança na fé

Diác. Paulo Felizola

Paróquia de Nossa Senhora do Ó - Nísia Floresta


Sempre que reflito sobre a humildade, recordo-me do diálogo entre duas senhoras pobres residentes na periferia de uma grande cidade do norte do Brasil. Era, aproximadamente cinco horas da manhã, ainda estava escuro, pois no Norte o sol só brilha depois das seis horas, quando dona Helena bateu à porta da casa de sua vizinha, dona Irene, para lhe pedir um pouco de pó de café, pois seu esposo, o seu Joventino, havia conseguido um biscate para aquele dia, mas ela não tinha como lhe preparar o desjejum. Dona Irene lhe respondeu que o pó de café ela tinha, mas não tinha o açúcar. Prontamente, dona Helena lhe respondeu que estava bem pois açúcar ele tinha. Naquele dia ambas as famílias tiveram um café da manhã adocicado.


Passada pelo crivo da sociologia, esse pequeno, mas relevante fato, foi um dia definido como uma estratégia de sobrevivência da classe pobre excluída: o exercício da solidariedade na dificuldade, quando a partilha é a via viabilizadora. No entanto, há de se notar que o diálogo revela uma profunda confiança mútua entre as duas mulheres e que, portanto, a partilha e a solidariedade decorrem da humildade manifestada nesse relacionamento.


Ambas as mulheres manifestaram humildade, não por serem pobres, mas pela confiança e certeza de que a compaixão de ambas seria decisiva. Em ambas não há a confusão entre humildade e pobreza, porque em ambas está claro que, embora vivam em condições de pobreza, sabem que são possuidoras de um valor intrínseco, através do qual, entendem o que cada uma sente e confiam uma na outra e que, por isso, sentem-se livres para expor suas dificuldades, sem o medo da vergonha e da reprovação.


A humildade, assim, não é um estado, mas um valor, uma virtude e, em especial, uma virtude cristã. Ser humilde, portanto, não impõe, necessariamente, que sejamos pobres materialmente, mas que nos coloquemos na posição daquele que precisa, porém sem subjugar-se, pois está em pé de igualdade para com o outro, bem como na posição daquele que serve, sem esperar contrapartida, apenas por amar, incondicionalmente, o outro, seguindo o que nos ensina Pedro em sua primeira carta:

“Revesti-vos todos de humildade em vossas relações mútuas, porque Deus resiste aos soberbos, mas dá graça aos humildes.” (1Pe 5,5b)


Ser humilde é ser “pobre em espírito” (Mt 5,3), aqueles que, com o testemunho de suas vidas, como dona Helena e dona Irene, perseveram na fé, proclamando a liberdade e lutando contra o conformismo, a alienação, o individualismo e o egoísmo, a injustiça e a morte, em todas as suas dimensões. Assim sendo, ser humilde é ser digno de proclamar a oração que o senhor nos ensinou, pedindo ao Pai que o seu Reino venha até nós e que sua vontade seja realizada, seja na terra ou seja nos Céus, ou seja que o reino dos Céus seja vivido, também, na terra; que em todas as casas possa ter café, almoço e jantar; que sejamos capazes de perdoar e sermos perdoados; que não sejamos iludidos pelos valores que levam à morte, mas que estes sejam afastados de nós.

 

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