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Ser cristão: crer e amar


Por Pe. Paulo Henrique da Silva

Professor de Teologia


Ontem, dia 28 de abril, na Igreja Matriz da Paróquia de Nossa Senhora de Lourdes, em Areia Preta, foi instalado o Tribunal para a Causa de Beatificação e Canonização do Pe. João Maria Cavalcante de Brito, o “Anjo da Caridade”, como foi definido por Dom Nivaldo Monte. A vida do Pe. João Maria foi dedicada à caridade. E nele, encontramos um exemplo, bem perto de nós, a ser imitado quanto ao essencial e ao imprescindível de nossa vida como consagrados, agentes pastorais, ministros.


                No Evangelho do 5º Domingo da Páscoa Jesus nos apresenta a figura da videira, do agricultor e dos ramos. A identificação dele como videira verdadeira, do Pai como o agricultor e nós como ramos, e ainda, a sua declaração de que os ramos unidos à videira darão sempre frutos, leva-nos a reconhecer em Pe. João Maria, um exemplo de “ramos” cheio de frutos. Uma vida cheia de frutos é o que Jesus almeja para todos nós seus seguidores. São João, na sua primeira carta, posta como segunda leitura da Missa de ontem, afirmava que o mandamento de Deus consistia em “que creiamos no nome do seu Filho, Jesus Cristo, e nos amemos uns aos outros, de acordo com o mandamento que ele nos deu” (Jo 3,23). É aqui que encontramos o modo e o sentido de dar frutos, presente na vida do nosso presbítero, cujo processo de Beatificação está em andamento.


                A primeira realidade de nossa vida de cristão e cristã é “crer”. Em sua primeira parte, o Catecismo da Igreja Católica apresenta uma reflexão sobre o fato de crer, realidade primeira de nossa condição de cristãos: “o homem é capaz de Deus”, “Deus vem ao encontro do homem”. Só podemos crer porque Deus nos fez capazes disso. Claro, a exposição sobre essa condição do homem, prévia, transcendental, não pode ser feita aqui. Porém, tal afirmação já nos enche de conforto e de alegria. Nós fomos criados com condição de crer, de aceitar o evento da vinda de Deus. Tal evento que se chama “Revelação” é a realidade por excelência, pois Deus criou para se dar a conhecer, e, dando-se a conhecer, se comunicar ao ser criado para recebê-lo. É por isso que Deus, já no Antigo Testamento, exige do homem que ele o ame: “Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás o Senhor teu Deus como todo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças” (Dt 6,4s). crer em Deus significa viver nesse amor, viver a partir desse amor. Atentemos para o que o texto diz: “amarás o Senhor teu Deus”. Deus vem ao encontro do homem para ser seu Deus. E isso fica muito mais claro e determinante quando aclamamos Jesus de Nazaré, como “Emanuel”, Deus conosco. Assim, quando falarmos de Deus não esqueçamos de dizer ou de compreender que falamos desse modo: “o Senhor, nosso Deus”. Que Deus seja o nosso Deus significa que o seu amor foi derramado em nós. E mais, o ápice dessa vinda, dessa Revelação acontece no envio do Filho e do Espírito Santo.


Crer em Jesus como o enviado de Deus, como manifestação de Deus, como comunicação de Deus, leva-nos a escutar sua Palavra, a observar o mandamento que ele nos deu. Não se trata de jogar fora o mandamento veterotestamentário, mas de ver e reconhecer em Jesus a manifestação plena do amor de Deus: “Este é o meu mandamento: amai-vos uns aos outros, assim como eu vos amei” Jo 15,12). Amar-nos uns aos outros é o mesmo que dar a vida pelas ovelhas, é o mesmo que amar os inimigos, é o mesmo que lavar os pés dos irmãos e irmãs, é dar de comer, dar de beber, receber em casa, vestir, visitar os irmãos e irmãs que estão necessitados. E mais, crer e amar se juntam mais ainda na vivência das bem-aventuranças, carta de identidade para todo cristão e cristã.


                Unamos, portanto, fé e caridade, crer e amar. E viveremos como morada do Pai e do Filho, na força daquele que é o Defensor, o que nos foi dado no dia do nosso Batismo. E assim, será realizado em nós o mistério da Páscoa, como o foi em Pe. João Maria, o servo de Deus e anjo da caridade. 

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