Por Diác. Eduardo Wanderley Coordenador de formação da Escola Diaconal Santo Estevam Arquidiocese de Natal
Desde a restauração do diaconato permanente, a pergunta sobre o próprio de sua formação tem inquietado toda comunidade eclesial. Uma declaração conjunta das Congregações para a Educação Católica e para o Clero, em fevereiro de 1998, reconhece fundamentalmente duas evidências: o impulso do crescimento do diaconato permanente com frutos promissores e vantajosos para o trabalho urgente da nova evangelização; e a pluralidade de normas e referências de vida e de formação diaconal. Diante dessas evidências, afirma a declaração que o diaconato permanente “necessita hoje de unidade de objetivos, de ulteriores elementos de clarificação e, no plano da ação, de estímulos e determinações pastorais”.
As Congregações para a Educação Católica e para o Clero, depois de terem publicado respectivamente a Ratio Fundamentalis institutionis sacerdotalis para a formação ao sacerdócio e o Diretório da vida e ministério dos Presbíteros, sentiram a necessidade de reservar atenções especiais à temática do diaconato permanente, mesmo para completar o trato do que diz respeito aos dois primeiros graus da Ordem sagrada, objeto das suas competências. Assim propuseram a Ratio fundamentalis institutionis diaconorum permanentium e do Diretório do ministério e vida dos diáconos permanentes. Sim, temos uma ratio fundamentalis! Esta foi preparada pela Congregação para a Educação Católica e pretende não só apresentar alguns princípios de orientação acerca da formação dos diáconos permanentes, mas também fornecer algumas diretrizes que devem ser tidas em conta pelas Conferências Episcopais na elaboração das suas « Rationes » nacionais. No Brasil, o documento 96 é a mais recente publicação do gênero para o diaconato permanente.
Por cerca de um milênio, o mais recente, a Igreja no ocidente não viu em seu clero a permanência de diáconos nesse grau da ordem sendo o período diaconal, majoritariamente, uma espécie de tempo preparatório para o ministério presbiteral. Isso, claro, desde a exclusão da ordenação per saltum que se observava em algumas igrejas primitivas. Esse “esquecimento” do diaconato levou a uma certa descontinuidade no compromisso da estrutura eclesial em dedicar esforços para a formação diaconal específica, restando muito claro uma formação única em vista do sacerdócio. Hoje, não parece vencida a questão, apesar de tantos esforços. O trabalho pastoral diocesano, nos três munera próprios da ordem sagrada, pode e deve interferir diretamente na construção de seu iter formativo. Nessa linha de pensamento, o diaconato pode ter uma formação diversa em um país continental como o nosso, guardadas as disciplinas fundamentais, de acordo com a realidade própria de cada igreja particular. É o plano pastoral diocesano que ilumina e cria a ênfase no tirocínio do futuro diácono.
Quando se fala de disciplinas fundamentais, o grande cuidado hoje é reconhecer o que, de fato, é fundamental. Por isso, tanto a ratio fundamentalis quanto o documento 96, pari passu com os documentos para formação presbiteral, preferem trabalhar com dimensões de formação. Naquele, são quatro: formação humana, formação espiritual, formação doutrinal e formação pastoral; neste, são cinco: dimensão humano-afetiva, dimensão eclesial-comunitária, dimensão intelectual, dimensão espiritual e a dimensão pastoral. Tanto o documento 96 quanto a ratio fundamentalis arriscam uma constituição de matérias do currículo mínimo. Claro que isso refere-se majoritariamente à formação intelectual. O desafio das escolas diaconais, e também dos Seminários, é serem capazes de metrificar as cinco dimensões sem cederem à tentação de compensar umas dimensões com outras. O fundamental é o essencial e, nisso, não se espera uma gradação mínima, mas um domínio completo. Ou não é essencial.
Sobre a cultura, a sociedade e as necessidades da Igreja local, expressas normalmente em seus planos pastorais, é preciso tratá-los como polo indutor do projeto político-pedagógico da formação diaconal. Os futuros diáconos de uma diocese devem estar completamente envolvidos com o plano pastoral diocesano. Devem conhecer muito sua realidade, mas também sobre ela realizar os estudos necessários à passagem do senso comum para uma visão abalizada na ciência, com o prisma religioso. No tempo atual, com a informação ao toque do dedo, ou melhor, ao comando de voz, com direito ao auxílio da inteligência artificial, o montante de dados disponíveis requer de nós inovação para minerar o que se deve enfatizar, sob pena de se saber quase nada de quase tudo.
Por fim, é preciso realçar algo muito importante: diferente dos seminários típicos para formação presbiteral, a escola diaconal quase nunca segue um modelo de internato. Enquanto isso pode ser aventado como um dificultador para a formação da comunhão, o modelo de externato mantém o candidato dentro de sua comunidade, sob o olhar dos seus pares e do seu pároco com os membros do clero de sua paróquia. Assim, não se desfiguram de suas origens nem assumem identidades distintas daquela que o autorizou o ingresso na formação. Por isso, a responsabilidade de acompanhamento precisa ser diferente. É também a comunidade paroquial a responsável pela formação do futuro diácono. É também o pároco que é demandado a dedicar agora um tempo para acompanhar um vocacionado. Trata-se de uma parceria necessária para a completa formação.
A nossa Escola Diaconal Santo Estêvão tem um projeto pedagógico aprovado em forma de regimento. O currículo está apresentado como apêndice. São documentos reguladores da ação da escola. Nesse dia 07 de maio de 2024, faz memória do seu decreto de criação de 1995, do pastoreio de Dom Heitor de Araújo Sales, hoje emérito. O Diretor da escola é um diácono, virtude entre muitas escolas, porque cuida como pai ministerial de mesma ordem. As disciplinas teológicas cobrem o arco formativo proposto no documento 96. Há tutores, estágios pastorais, inclusive com supervisores. Há um diálogo importante com os párocos que encaminham os candidatos. É um pouco de nossa escola.
O diácono permanente deve estar cada vez mais configurado ao Cristo Servo e, como o mestre e seus discípulos, estar em plena Igreja em saída. Não se trata apenas de um serviço religioso, mas sua identidade própria que leva para dentro de seus espaços de trabalho e de amizade extra domus Dei. Hoje, mais que nunca, é preciso formar para capilarizar a igreja. É esse o sonho de Francisco. É esse o sonho da Escola Diaconal Santo Estêvão.
Commentaires