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ARTIGO - Que Deus nos socorra


Diác. Paulo Felizola Paróquia de Nossa Senhora do Ó - Nísia Floresta  

Quando escrevi o texto publicado na última quinta-feira, dia 12/12, ao qual dei o título de Feliz ano novo?, o Banco Central do Brasil, através do Comitê de Política Monetária (COPOM), ainda não havia decidido sobre a nova taxa básica de juros (SELIC). Ela foi anunciada, oficialmente, somente na manhã do dia 12/12 apontando um aumento de 1% e indicando dois novos aumentos na mesma magnitude, o que aponta para termos em maio de 2025 uma SELIC em torno de 14,25%[i]. Somada aos cortes de gastos propostos e ao Novo Arcabouço Fiscal, ou seja a uma política fiscal restritiva, essa nova SELIC, tendo como justificativa nos prevenir de um crescente processo inflacionário determinado pelo aquecimento da economia, revela, claramente, a intenção de, a partir do próximo ano, levar a economia brasileira à recessão, com suas drásticas consequências.

Como nos lembra Luís Nassif[ii], dentre essas consequências, certamente teremos:

1.       uma elevação na relação dívida/PIB para níveis impossíveis de serem compensados com cortes de gastos[iii].

2.      Aumento no número de recuperações judiciais e/ou falências das empresas que recorreram ao crédito, consequentemente, uma redução significativa na oferta de bens, redução na arrecadação fiscal e aumento do desemprego.

3.      Redução da demanda no mercado de consumo, em função do aumento da inadimplência das pessoas físicas, combinada com a redução da massa salarial.

4.      Como não haverá condições de serem atendidas as novas exigências fiscais, o câmbio continuará pressionado, impactando diretamente a inflação.

5.      E a elevação da inflação reforçará a alta da SELIC.

Assim fica clara a lógica que nos empobrece, a lógica que dificulta a vida, que oprime, que exclui, que descarta e desumaniza. Enquanto, por outro lado, essa é, também a lógica que enriquece os rentistas, os banqueiros, o capital financeiro, porque todo o juro que é pago a esses agentes representa subtração nos benefícios sociais, nos investimentos em infraestrutura, na saúde, na educação. Na realidade, essa é a lógica da loucura, a lógica da desesperança, para não dizer que é a lógica da morte do pobre.

O pior em tudo isso é parecer nos sentirmos impotentes, só nos restando o direito de espernear, descrevendo os algozes do povo como animais ferozes que ameaçam os enfraquecidos com a proximidade da morte. Mas, mesmo diante desse cenário preocupante, não podemos desanimar, porque temos a quem clamar como faz o salmista:

“Tu, porém, Javé, não fiques longe!

Força minha, vem socorrer-me depressa!

Salva meu pescoço da espada,

e a minha pessoa, das patas do cão!

Arranca-me da goela do leão,

faz-me triunfar dos chifres do búfalo!”[iv]

É com a certeza que Deus ouve o clamor dos seus filhos que não nos acomodaremos, mas, pelo contrário, com fidelidade ao evangelho e à Igreja, denunciaremos e combateremos essa ideologia até que os soberbos sejam dispersos, os poderosos sejam derrubados de seus tronos e os humildes sejam elevados; até que os famintos sejam fartos e os ricos sejam despedidos de mãos vazias[v].


[i] Antes dessa última reunião de 2024, a taxa SELIC era de 11,25%.

[ii] NASSIF, L. “A última tacada de Campos Neto, o Flautista de Hamelin”. Disponível em https://jornalggn.com.br/coluna-economica/luis-nassif-a-ultima-tacada-de-campos-neto-o-flautista-de-hamlin/

[iii] Com a concretização desses três aumentos de 1% cada um, a dívida pública brasileira deverá crescer algo em torno de R$ 30 bilhões ao longo do ano.

[iv] Sl 22,20-22

[v] Lucas 1,51-53

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