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ARTIGO - A arte de mandar

Diác. Eduardo Wanderley

Paróquia de São Camilo de Léllis – Lagoa Nova – Natal


Lembro-me de um saudoso professor do ensino técnico do Instituto Federal, que na minha época de aluno se chamava Escola Técnica Federal, mais conhecida por seu acrônimo, ETFRN. Quando ele apresentava um texto que deveríamos ler, enquanto alunos, dizia: recomendo fortemente a leitura desse texto. Já sabíamos: era pra ler mesmo! A elegância da frase recomendatória não deixava dúvidas: tratava-se de um líder carismático, um educador.


A antítese dessa frase é outra frase: eu mando em/no/na... quanta fraqueza, insegurança! Quanto mundanismo está contido nessa frase! Mandar é uma arte que não precisa de amuletos legais! Quem manda por convicção, por ofício, por necessidade, com carisma, manda com os olhos. Alguns de nós, quiçá muitos, lembra de um pai e/ou de uma mãe que respondia uma traquinagem com um olhar penetrante. Uma palavra naquele momento estragaria toda beleza, toda nobreza do olhar interpelativo. Triste de quem precisa pronunciar 'eu mando em...'. Está, de fato, reconhecendo sua incapacidade de ser líder.


O mundo está cheio de mandatários, mandadores, mandanismos. O líder é aquele que não precisa de estais para mandar. O bom líder está mesmo estaiado no seu carisma contagiante. A arte de mandar, de mandar bem, é sutil, delicada, elegante e educada. Manda melhor quem é mais humilde.


A grande cilada para quem exerce um papel decisório em qualquer ordem social e/ou religiosa é o poder mal interpretado. Na Igreja, nos assombra aquele que manda com as palavras e não com o coração. Aquele que precisa pronunciar 'eu mando na minha pastoral' ou qualquer outra instância de serviço.


Para julgar meus atos, nada melhor que a inspiração bíblica. Jesus mandou, mas não precisou ser arrogante. Nunca disse a um de seus discípulos: eu mando em você! Sempre quis uma adesão do coração. Entregou para o primeiro líder cristão, Pedro, as chaves do Reino do Céus. O potestas clavium, o poder das chaves, contém o segredo. Uma chave só abre e fecha quando seu segredo, em forma de ranhuras, picos e vales, casa perfeitamente no cadeado. A chave errada não abre nem fecha.


A chave da autoridade, sem autoritarismo, é a nobre simplicidade. O olhar diz mais que as palavras. O poder que Jesus repassou a Pedro contém o segredo da chave, o segredo da elegância, da ternura. O segredo do pai, do pastor, que governa com o olhar. No mundo de hoje precisamos mais de lideres do que de mandadores.

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