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O ser humano: morada de Deus


Por Pe. Paulo Henrique da Silva Professor de Teologia Há em nós um centro de vida, que chamamos "consciência", realidade essencial, espaço onde só Deus habita. E por isso, um centro que Deus tem muita, elevada e profunda consideração. Podemos dizer que até Ele tem ciúmes desse centro.  Nós chamamos esse centro de "sacrário", morada, casa, mas seu nome próprio e "consciência". Deus habita no mais íntimo de nossa consciência. O seu sopro nos dá vida (cf. Gn 2,7). Não é alguma coisa que está na consciência que lembra Deus, mas Deus mesmo. Essa presença não faz de nós Deus, isso é impossível. O sopro de vida que é Deus em nós, leva-nos a entender que Deus continua sendo Deus e nós continuamos anexo nós, natureza humana, criada, limitada, finita. Deus, ao contrário, e Incriado, Ilimitado, Infinito. Mas, ao criar o homem e a mulher a sua imagem e semelhança, Ele o faz "capax Dei" (Catecismo da Igreja Católica, n. 27), isto é, Deus o faz para ser partner dele, e ser humano e a única criatura que Deus quis por si mesma. Isto significa: Deus cria o homem para uma relação, para tratá-lo como “tu” num eterno diálogo com esse tu, reflexo ou dispensação do eterno diálogo intradivino, diálogo que se dá no dom de si mesmo que envolve as três Pessoas divinas, Pai e Filho e Espírito Santo.  Deus faz isso de tal forma que constrói um caminho para o homem e a mulher que os torna "gramática para a possível revelação de si" (Karl Rahner), revelação de fato acontecida, sempre de acordo com a soberana liberdade e pronta iniciativa divinas. O homem e a mulher foram criados para receber a revelação divina, criados para ser "ouvintes da palavra" (Karl Rahner). Tudo o que constitui o ser humano tem como centro, essa realidade onde Deus fixa sua morada. Ele conduz o ser humano na história para esse encontro interpessoal com Ele. O encontro de Deus com o homem e a mulher se dá, de modo exemplar e definitivo para todas as gerações, na Encarnação do Filho, expressão de ser (cf. Hb 1,3). Na Encarnação, acontece a união de duas naturezas, a divina e a humana. Já podemos, então, dizer e sustentar com muita satisfação de nossa parte, e isso com muito jubilo: Deus, ao criar, desejou que o que cria fosse conduzido a essa união. Pois esta é a vontade criadora de Deus – a união dele com o aquele que é criador por Ele como imagem e semelhança dele. E como, a imagem de Deus é o Filho (cf. Cl 1,15), podemos dizer que Deus estabelece, desde a criação, e isso vale para todo ser humano criado por ele, que o sentido da vida de cada homem e de cada mulher é chegar a essa união. E para que tal união se realize de modo pleno e concreto, Deus envia ao mundo o seu Filho (cf. Jo 3,16), envia seu Filho, nascido de mulher (cf. Gl 4,4), Deus envia seu Filho para que sejamos verdadeiramente seus filhos e filhas. Assim, o homem e a mulher são criados e já recebem a impronta cristológica, isto quer dizer: há um “existencial sobrenatural” (Karl Rahner) em nós, que é sempre “existencial crístico” (Juan Alfaro). E que desemboca na Encarnação da Imagem de Deus, sempre reconhecendo que Deus o faz na sua libérrima vontade. Mas, por isso mesmo, devemos afirmar: ao assumir a carne humana, ao se tornar homem como nós, exceto no pecado, o Filho de Deus mostra a nós que fomos criados para acontecer, em nossa carne, o envio do Filho. Certo, é preciso assumir o que a Igreja diz dessa união em Cristo na definição dogmática do Concílio de Calcedônia (451): Cristo é a união de duas naturezas, a divina e a humana. Essa união acontece "sem divisão", "sem confusão", "sem mudança", "sem separação". Deus e o ser humano, uma diferença abismal. Mas, Deus quis se unir a nós e uma vez feito isso, Ele jamais se separa, como jamais separa a natureza divina da natureza humana em Jesus. É aí, que reside a dignitas infinita”, a infinita dignidade humana reside no fato de que Deus cria e sopra o sopro de vida para todo ser humano. E mais, Jesus deixou a Igreja, ou seja, seu Corpo, seus seguidores para anunciar, proclamar, defender e cuidar dessa dignidade infinita que toca a todos, sem exceção. E é na vivência e na observação dessa missão o que faz a Igreja estar de pé ou no chão. E isso nada mais é do que viver o mandamento dele, entregue na última ceia: “amai-vos uns aos outros como eu vos amei” (Jo 13,34).

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