Por Pe. Matias Soares Pároco da Paróquia de Santo Afonso Maria de Ligório - Conj. Mirassol - Natal
A Igreja tem como missão ser essencialmente uma estrutura de cuidado. Ela existe para cuidar do povo de Deus. E isso porque ela é “Mãe e Mestra” (S. João XXIII); tem por vocação ser “Hospital de Campanha” (PP. Francisco). Os dramas existenciais da humanidade, ainda mais nesse Pós-pandemia, tornaram-se mais prementes.
Historicamente, mesmo sendo protagonista no cuidado do gênero humano e “perita em humanidade” (S. Paulo VI), como podemos facilmente constatar pela existência de milhares de instituições constituídas e administradas por ela em todo o mundo, a Igreja tem vivido momentos complexos no concernente ao cuidado dos seus ministros ordenados. Para dizer a verdade, a própria teologia do sacerdócio foi um invólucro que ofuscou a condição humana destes ‘profissionais do sagrado’.
A vida vai nos ensinando, pelo próprio estilo de trabalho que temos, que as pessoas não podem ser super-homens. A “Vontade de Potência” não determina a identidade humana. Esta é sempre muito mais, mas também muito menos. A “coincidência dos opostos” encontra-se no humano, demasiadamente humano. A realidade transcendental dos ministros ordenados, que pressupõe a sua natureza não pode ser olvidada.
Os responsáveis pelas estruturas eclesiásticas precisam urgentemente entender e ter “sensibilidade pastoral” para cuidar dos ministros ordenados que estão doentes e gritando por socorro! Há vários que estão com doenças mentais, com enfermidades físicas e, inclusive, ‘epidemiológicas’, transtornos espirituais e desvios de caráter etc. É importante detectar essas situações controversas e de atenções pastorais a serem tratadas.
Atualmente o que se faz é continuar a fingir que as situações não existem e jogá-las para debaixo dos tapetes, ou criar paliativos que gerarão problemas mais graves para o futuro, como temos constatado e eclesialmente sofrido com os escândalos revelados pelos meios de comunicação. Isso demonstra incapacidade de gerenciar crises. Até quando se tenta ‘proteger’ os que fazem parte dos mais próximos, o realizam criando mais problemas, pois caridade, sem verdade, não promove o bem, nem pessoal, nem coletivo? Estruturas pervertidas moralmente, avolumam vícios e muita mediocridade. Basta que contemplemos as demais instituições da sociedade civil.
A Igreja necessita criar ‘ESTRUTURAS DE CUIDADO” para seus ‘MINISTROS ORDENADOS’. Ou faz isso, ou teremos um futuro muito mais complicado para a vida da instituição na sua totalidade e dos seus componentes em particular. Reflitamos sobre os “sinais dos tempos”, que batendo em nossas portas! Observemos os ‘movimentos da história’! Falta de oração e estudo atrofia os corações e as mentes que deveriam “ver e sentir compaixão” daqueles que lhes foram confiados para cuidar, especialmente quando passam por situações de sofrimentos.
Enfim, um dos primeiros passos a ser dado é elaborar um ‘PLANO DE FORMAÇÃO PERMANENTE’ para o Clero que está exercendo sua missão no interior de uma Igreja Particular. Este deve contemplar as quatro dimensões da formação pensadas pela pedagogia eclesial na sua sabedoria milenar. Isso é algo fino, exigente e realizável. Como já lembrei em outro contexto, “ministros ordenados, cuidai-vos uns dos outros”! Vamos pensar juntos e de modo sinodal sobre esta preocupação! Assim o seja!