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Comunidades Eclesiais


O intuito de tratar deste tema, para alguns, parecerá um tanto quanto corriqueiro; mas, seguindo as preocupações pastorais da Igreja para esse Terceiro Milênio, tão fortemente marcado pelas sequelas pós-pandêmicas e guerras em pedaços, às quais estão a exigir tempo para cuidarmos e redirecionarmos nossas ações. A Igreja tem sido penalizada nas suas dinâmicas pastorais, ainda mais, por causa destas tantas situações que têm gerado sofrimentos, desencantos e atavismos da evangelização.


Na Era apostólica assumida pelo magistério do Papa Francisco, o ponto de partida das nossas ações pastorais são as “periferias”, sejam elas geográficas ou existenciais. Em algumas Igrejas Particulares da Igreja no Brasil, isso ainda não é discernido, como deveria. Está faltando a escuta do Espírito Santo e a conversão ao Evangelho. Há uma acídia para a oração e o estudo. Existe uma cegueira espiritual, sinalizada pelas vaidades, pomposidades e mundanismo propagandista. Na Igreja existe muitos penduricalhos que retardam e ofuscam a ‘alegria do evangelho”. Os prognósticos cunhados pelo teólogo Ratzinger e assumidos analiticamente por Francisco estão às nossas portas. O secularismo nos levará a sermos uma Igreja de poucos. Por falta de leitura e hermenêutica teológicas não estamos alcançando, nem somos inquietos pastorais em nossas paragens e comunidades eclesiais.


A Igreja no Brasil, principalmente por causa das maravilhosas intuições da V Conferência de Aparecida, tem assumido programaticamente a intenção de fazer acontecer a Igreja, como comunidade de comunidades (cf. DGAE, 2011-2015, n.3.4, 57), ou como será posto em outro contexto: “Comunidades Eclesiais Missionárias”. O documento da CNBB assinala que:

“comunidade implica necessariamente convívio, vínculos profundos, afetividade, interesses comuns, estabilidade e solidariedade nos sonhos, nas alegrias e nas dores. Um dos maiores desafios em iluminar, com a Boa Nova, as experiências nos ambientes marcados por aguda urbanização, para os quais vizinhança geográfica não significa necessariamente convívio, afinidade e solidariedade. Outro grande desafio encontra-se nos ambientes virtuais, onde a rapidez da comunicação e a liberdade em relação às distâncias geográficas tornam-se grandes atrativos. Estas situações configuram desafios para a ação evangelizadora, na medida em que nada substitui o contato pessoal”.


As comunidades eclesiais missionárias são chamadas a ser lugar por excelência do “protagonismo dos fiéis leigos”, como já fora refletido por mim em outro contexto (cf. https://www.pom.org.br/setorizacao-espaco-de-protagonismo/). As nossas narrativas pastorais não ecoam mais em nossas reuniões. Nem sempre a razão de ser das nossas atividades tem por principal objetivo a ação missionária. O pior, a própria administração deixou de ser atividade meio e tem se tornado a meta finalística do que é realizado nas estruturas de manutenção e econômicas. É urgente a retomada dos aprofundamentos, em nossas comunidades, sobre a “Alegria do Evangelho”, tão tenazmente escrita e lembrada pelo Papa Francisco. O Sumo Pontífice é um grande teólogo da pastoral, porque sabe ser um Pastor. Sente os sofrimentos do seu povo, porque é um homem capaz de escuta e presença edificante.


Sendo assim, façamos um caminho eclesial. Por exemplo: neste ano de dois mil e vinte três estaremos celebrando “um ano vocacional” em toda a Igreja do Brasil. Em nossos planos missionários, como essa proposta vai entrar, não só teoricamente, mas também na metodologia e na prática. É importante “sentir com a Igreja”, como nos ensina a sua sã “tradição viva”. Não deixemos que nossas atenções pastorais estejam pautadas em ações massificadas, intimistas e alienantes, e, muitas vezes, em devaneios narcísicos e fins pecuniários. Faz-se necessário uma sinodalidade pastoral. É louvável uma “ecologia de toda a pastoral”.


Por fim, as nossas comunidades eclesiais precisam ser repensadas em suas formas, métodos, concepções e horizontes. A conversão missionária acontece do sujeito à comunidade. A vida de cada batizado é chamada a ser ‘afetada’ pelo ardor missionário. O amor ao evangelho, seu anúncio e testemunho, é a marca registrada de todos que compomos a Igreja de Jesus Cristo, neste Terceiro Milênio. Assim o seja!

Pe. Matias Soares

Pároco da paróquia de S. Afonso M. de Ligório

Natal-RN

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