Pe. José Marcos Silva de Lima
Diretor espiritual do Seminário de São Pedro
São Gregório de Nissa diz que a oração é a respiração da alma. Seguindo esse raciocínio é válido afirmar que assim como precisamos do oxigênio natural para sobrevivermos, precisamos também do oxigênio espiritual para nos mantermos firmes em nossa peregrinação na fé. A oração é o oxigênio da alma. Sem ela não podemos caminhar espiritualmente. Santa Teresa d’ Ávila exemplifica a oração como uma conversa de dois amigos que se amam. É um colóquio tão íntimo que faz o amigo penetrar o coração do outro amigo. Nesse sentido a oração além de ser elemento necessário para nossa vida de fé, cultiva em nós a amizade com Deus.
Para orarmos é preciso que nossa alma deseje estar com Deus. Ele é o amigo que verdadeiramente nos conhece e com o qual podemos marcar encontro a qualquer momento do dia ou da noite. E, esse encontro é marcado pela alegria e pelo desejo de permanência. A oração torna-se caminho de transcendência.
Karl Rahner, jesuíta e teólogo, afirma que no terceiro milênio o cristão ou será um místico ou não será cristão, apontando para uma experiência de Deus capaz de superar a barreira do que é superficialmente medíocre na dimensão espiritual para que no encontro com aquele que é o totalmente Outro, ele possa encontrar sentido para sua vida. Isso, perfeitamente, está em conexão com o que propôs o seu mestre na espiritualidade, Santo Inácio de Loyola , nos seus exercícios espirituais, quando apresenta um caminho que vai desde o conhecimento da humanidade não redimida marcada pelo pecado presente no ser humano, até a eleição de Cristo como sendo o senhor e mestre , num renovado processo de conversão, segundo a direção do Espírito Santo.
Como vemos, os santos e místicos nos ensinam que a oração nos conduz à transcendência em meio a imanência do cotidiano. Mas, para termos uma vida de oração sincera e autêntica é preciso reconhecermos que ela não é um puro automatismo ritualístico religioso. Ela é acima de tudo, uma tomada de consciência da presença daquele que se faz presente a mim. A minha atitude diante do mistério tremendo e fascinante de Deus, parafraseando Rudolf Otto, deve ser de adoração e silêncio. A cruz redentora me explica o fim da oração, o amor.
A oração de Jesus é carregada de um mistério que evoca uma profunda união com o pai num amor tão íntimo, que leva Jesus a expressar que ele e o pai é uno. É isso que a oração faz conosco, nos torna um com Deus, numa união íntima, que levou São João da Cruz a dizer que orar é como renovar nosso casamento espiritual com o amado de nossa alma. Num casamento sacramentalmente falando se dá a união dos esposos, não qualquer união, mas a que a Palavra de Deus já anuncia como sendo uma só carne. A oração é um belo casamento, em perfeita união, que torna o cristão um íntimo participante da vida divina. Um casamento que se dá no Espírito do Senhor.
Como é profundo o mistério da oração em nossa vida. Portanto, não deixemos que ela se torne para nós apenas momentos mecânicos de repetição de palavras bonitas, porém,vazias. Que a oração seja realmente um caminho de transcendência que possibilite o encontro com Deus, em Cristo, no Espírito Santo.