ARTIGO - O Propedêutico: encontro pessoal com o Mestre
- pascom9
- 13 de out.
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Pe. Silvano Domingos Nascimento
Formador do Propedêutico – Arquidiocese de Natal
Todos os dias de nossa vida vivemos encontros e desencontros. Somos tocados e marcados pelas experiências que, ao longo do percurso, nos formam. O tempo do seminário mais do que conhecimento teórico, deve ser um encontro com o nosso Tu Eterno, criador de todas as coisas, o próprio Deus. O seminarista é chamado a estabelecer uma íntima relação dialógica com o nosso Deus, que se relaciona conosco através do rosto humano do Cristo Jesus. Na relação entre o formando e o Criador do universo, é estabelecido um diálogo a partir do encontro íntimo com o mestre Jesus, que pronuncia as palavras dialógicas, aquecendo o coração daquele que o encontra, assim como aconteceu no caminho de Emaús: “Não estava ardendo o nosso coração, quando ele nos falava pelo caminho e nos explicava as Escrituras?” (Lc 24,32).
No inicio da formação presbiteral é importante proporcionar ao formando o tempo e o espaço que possibilite o encontro com Cristo. A formação inicial introduz o formando na dinâmica do caminho de Emaús, de modo que, fazendo a experiência do encontro com Cristo, e a aquecendo o coração, o jovem se dispõe a fazer um verdadeiro discernimento vocacional. Por isso, “O propedêutico é uma etapa formativa indispensável, com uma especificidade própria, eminentemente querigmática, caracterizada pelo encontro com Cristo.” (Doc 110, n. 125). O caminho dialógico é traçado pelo encontro diário com o mestre. Neste percurso, o formando deve deixar-se ser formado e tocado pelo verdadeiro arquiteto do universo. Martin Buber, nos diz: “O homem se torna Eu na relação com o Tu.” (Eu eTu, p.68). O seminarista se tornará discípulo se de fato viver a experiência do verdadeiro encontro com Cristo Jesus, que nos revela o rosto de Deus, o Tu eterno.
Na caminhada vocacional o principal objetivo é alcançar a santidade, vocação primeira de todos seres humanos. Esse é o convite feito por Jesus, “sede santo, como vosso Pai é Santo.” (Mt 5,48). No percurso da vida são apresentados meios para que o homem alcance a plenitude. A vocação ao ministério ordenado é uma resposta ao chamado primeiro, a qual deve ser assumida a partir de um discernimento responsável e consciente. Antes é preciso que o formando se encontre profundamente com o Senhor. Mas, “para buscar a Deus, requer-se um coração despojado e forte, livre de tudo o que não é puramente Deus.” (São João da Cruz; p.26). Essa busca só será possível se acontecer o encontro com o mestre, o Cristo Jesus; assim como os discípulos, motivados pela pregação de João Batista, passaram a seguir Jesus. “No dia seguinte, João estava lá, de novo, com dois dos seus discípulos. Vendo Jesus passar, ele disse: Eis o Cordeiro de Deus! Os dois discípulos ouviram-no dizer isso, e seguiram Jesus, Jesus voltou-se para trás e, vendo que eles o seguiam, perguntou-lhes: Que procurais? Eles responderam: Rabi – que quer dizer mestre – onde moras?” (Jo 1,35-38). O encontro deve fazer com que o discípulo conheça o mestre e passe a conviver com ele. Quando convivemos com alguém, passamos a conhecer aquela pessoa, de tal forma, que também começamos a absorver muitos dos seus costumes. O seminarista precisa aprender com o mestre. Por isso, o tempo do seminário deve ser escola de discípulos.
Referências:
Buber, Martins, 1878 – 1965: Eu e Tu. Tradução: Newton Aquiles Von Zuben – SP:
Centauro, 2001.
Documento da CNBB – 110
Bíblia Sagrada – Tradução Oficial da CNBB. 2ª Edição – 2019
João da Cruz, 1542 – 1591: O amor não cansa nem se cansa; (seleção de textos por Patrício Sciadini; revisão José Dias Goulart). – SP: Paulus, 1993.








