ARTIGO - O consumismo: uma estratégia vital para o capital
- pascom9
- 8 de mai.
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Diác. Paulo Felizola
Paróquia de Nossa Senhora do Ó – Nísia Floresta
Em uma sociedade capitalista, é bom que se diga, para que não haja dúvidas, que a vida é subordinada à lógica do capital em seu processo de produção e reprodução. Ou seja, a sociedade capitalista produz e reproduz a vida material segundo os interesses do capital.
Todo o processo de reprodução do capital inicia com a ida do capitalista ao mercado para adquirir meios de produção e força de trabalho necessários à produção da mercadoria escolhida para ser produzida. Após a aquisição dos meios de produção e da força de trabalho, o capitalista faz com que todas essas mercadorias passem por um processo de produção definida pela tecnologia disponível. Ao fim desse processo de produção a mercadoria produzida será levada ao mercado para ser trocada por dinheiro, ou seja, para ser vendida. Mas para que o capital inicial seja ampliado é necessário que a mercadoria seja vendida, ou trocada por dinheiro, por um valor superior ao, inicialmente, utilizado. Ou seja, é necessário que haja, sempre, a produção de um valor excedente, do qual é extraído o lucro do capitalista para que, em seguida, seja dado início a um novo ciclo.
Apesar da forma simplificada, pela descrição, acima, do processo de produção capitalista, é possível perceber o quanto é vital, para o capital, que o mercado consumidor esteja sempre em crescimento, pois quanto maior for a procura, maior será o valor excedente obtido, seja em termo absoluto como em termo relativo. Mas é preciso, também, esclarecer que consumir é uma necessidade intrínseca ao ser humana, pois é ao consumir que ele satisfaz suas necessidades. Logo, salta como uma exigência fundamental para a acumulação capitalista a criação de necessidades novas e maiores. Ou seja, a acumulação capitalista precisa de um consumo que extrapole as necessidades, ou seja, para a acumulação capitalista é vital o estímulo ao consumismo, que na verdade é o comportamento de adquirir bens e serviços de forma excessiva, frequentemente impulsiva e sem atender a necessidades básicas. O consumismo é, portanto, uma prática social que se tornou comum em sociedades capitalistas modernas, impulsionada por fatores como a publicidade, mídia e a ideia de que o consumo pode trazer felicidade ou pertencimento.
Foi, portanto, a sociedade moderna que desenvolveu e disseminou esse entendimento como o fator central para o desenvolvimento do capitalismo, pois assim nos revela o entendimento dos mitos do progresso e do desenvolvimento. O mito do desenvolvimento pode ser entendido através da identificação de suas duas características específicas. A primeira é a aplicação do conceito de mito do progresso, não apenas no campo das ciências naturais, mas também no campo das ciências sociais. Segundo este mito, a humanidade seria capaz, não só de inventar e produzir coisas impensáveis pelas gerações passadas, bem como de, também, criar sociedades perfeitas, por meio da aplicação de ciências sociais e do mercado. A segunda característica do mito do desenvolvimento é que os benefícios desse progresso teriam uma destinação universal. Assim sendo, a sociedade moderna reconheceu, mesmo que implicitamente, o direito de todo os seres humanos de participar dos frutos do desenvolvimento. Para a sociedade moderna, portanto, é direito de todos os seres humanos participar dos frutos do desenvolvimento tecnológico e econômico da humanidade, independentemente, dos respectivos condicionamentos culturais e sociais.
Apesar de sua bela promessa de levar a toda a humanidade o padrão de consumo dos países ricos o mito do desenvolvimento não passa de uma estratégia para expansão do consumo para todos os povos, ou seja expandindo o consumo o sistema capitalista foi sendo expandido globalmente, embora em muitos lugares tenha sido imposto por meio da colonização e de políticas pós-coloniais, seja por pressão comercial, seja por meio de alianças com as minorias que formam a elite dos países não desenvolvidos, significando, na verdade, sofrimento para os setores mais pobres e a destruição dos valores culturais locais para a assimilação e a imposição de valores e culturas capitalista, via a oferta de bens e serviços produzidos nos países ricos.
Portanto, a imposição do mito do desenvolvimento, na verdade significou, acentuadamente, a destruição de formas de culturas arcaicas, destruindo, sensivelmente, o senso comunitário segundo o qual o problema social de um pequeno grupo seja entendido como um problema de toda a comunidade. A expansão do consumo capitalista, portanto potencializou o individualismo, a exclusão e a hipocrisia, na medida em que, como estratégia para o desenvolvimento, o incentivo ao consumo, para além das necessidades básicas, assume papel fundamental nas políticas para o desenvolvimento.