ARTIGO - A santidade das mães em Deus
- pascom9
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Diácono Paulo Gabriel Batista de Melo
Capelania Nossa Senhora do Loreto
Ordinariado Militar do Brasil – Parnamirim (RN)
Pode ser deveras inusitado começar um artigo de cunho teológico com um clássico da literatura mundial , sobre um tema tão relevante que é a maternidade e a santidade, em uma sociedade abortista que ofende a Deus constantemente com essa prática condenada pela Igreja e por todos os Santos Padres.
Dante Alighieri, no clássico a Divina comédia, no volume Paraíso, no Canto VII, página 47, aborda essa temática de uma forma bem interessante. Ele diz que os únicos seres humanos (nossos primeiros pais Adão e Eva), que não tiveram mãe erraram tristemente, e que depois deles nenhum outro ser humano ficou sem mãe, o próprio Deus ao se encarnar na Virgem Maria fez questão de ter mãe, assim ele se expressa na Divina Comédia:
Aceitar não querendo, obediente
Saudável freio, o homem, sem mãe nado
Perdeu-se a si, perdeu a humana gente
O novo Adão (Jesus) e a nova Eva (Maria Santíssima) tiveram não só uma mãe, mas tiveram mães santas. Jesus teve como mãe a santa das santas, aquela que o Rei se encantou com sua beleza, e como disse São Luiz de Montfort no Tratado da Verdadeira Devoção:
Seus próprios pais não a conheciam, e os anjos perguntavam muitas vezes entre si: “Quem é esta?” (Ct 8, 5), porque o Altíssimo lha escondia ou, se alguma coisa lhes revelava a seu respeito, infinitamente mais lhes ocultava.
Os patriarcas suplicaram pelo messias, os profetas anunciavam, mas Deus não encontrava na Terra ninguém com dignidade, até que uma menina santa apareceu com tanto brilho e santidade que encantou a Trindade. O Pai a quis como filha, o Filho a acolheu como Mãe a ela confiando sua fragilidade humana, e ao Espírito Santo encantado com sua beleza a tomou por esposa, gerando em seu santo ventre o nosso Redentor, como tão belamente escreveu São João Paulo II em sua REDEMPTORIS MATER, Carta Encíclica, do sumo pontífice sobre a Bem-Aventurada Virgem Maria na vida da igreja.
A Santa Mãe de Deus, segundo Monfort, tinha virtudes heroicas que não se encontrou em nenhum ser humano, dentre elas o santo mariano cita: profunda humildade, fé viva, obediência cega, oração contínua, mortificação universal, pureza divina, ardente caridade, paciência heroica, doçura angélica, sabedoria divina, e certamente ela tinha muito mais, estas, porém, quis Deus que lhas conhecêssemos, mas ocultara a nós tantas outras.
Nossa Senhora teve como mãe santa Izabel, também modelo de fé e santidade na maternidade, em uma gestação já em idade avançada, o que talvez os médicos de hoje dissessem que seria de risco, mas que ela levou com amor.
Pouco se sabe sobre a vida e parentescos de Isabel, mas do que se sabe fazendo triangulações dos relatos bíblicos e dos anais da História de Israel, deve ter nascido por volta de 50 a 55 ª C., uma vez que era o fim do governo Asmoneu em Israel.
Nos mostram os relatos dos evangelistas Marcos, Lucas e Mateus, o publicano, que Herodes governava, e que suprimia as revoltas dos judeus que não o viam com bom gosto, por suas alianças com os romanos, um tempo de muita perseguição, só conseguia se salvar das perseguições aqueles que de alguma forma se aliavam, como o fizeram os altos sacerdotes Anás e Caifás.
Estes, até por medo de revoltas que lhes tirassem o poder, permitiram a morte de Jesus e de João Batista, qualquer um que morresse, na visão deles, para salvar suas riquezas e seus poderes, era válido. Tinham medo de perder a autoridade permitida por Roma a eles.
Devido à grande influência de Herodes, inclusive na arquitetura, ele era conhecido por, ‘o grande’. Seu governo se estendeu por longo período, e foi também um período de muitas revoltas e rebeliões, em especial contra os romanos, que permitiam o poder nas mãos dos seus escolhidos, uma revolta ameaçava a perda do reinado.
Nascimento (2025), afirma sobre a mãe do precursor que “Apesar, da Bíblia não dizer com quantos anos Isabel faleceu”, porém, é possível depreender da Sagrada Tradição e de historiadores como Flávio Josefo e Suetônio, que “os estudiosos estipulam, com base em sua provável idade durante a gestação de João Batista, que viveu até por volta de 25 e 30 d.C., morrendo com aproximadamente 75 anos”.
Sabemos ainda pelas narrativas dos Evangelhos, que Zacarias era pai do último profeta e precursor de Jesus, e que segundo Nascimento (2025), “era sacerdote sobre Israel durante o reinado de Herodes I. Ele pertencia ao turno de Abias, e a Bíblia o descreve como um homem temente e correto diante do Senhor”.
O Batista é personagem chave na gestação de Jesus, pois dá o alerta do Senhor ao mundo, quando Isabel proclama que Maria Santíssima é cheia de Graças, e Mãe do seu Senhor, também é o Batista que batiza Jesus, sem querer, mas, aceita por determinação de Jesus de que deveriam fazer cumprir as Escrituras.
Afirma ainda Nascimento (2025), que
João exerceu seu ministério por pouco anos, mas as marcas de seu trabalho foram profundas na história da Igreja. Ele é admirado como um homem de fé, que abdicou de si para o ministério que Deus o chamou.
A gestação do precursor de Jesus se dá de maneira milagrosa, assim como a de Jesus. Isabel, mãe de João, o Batista, era estéril e o esposo, Zacarias de idade bem avançada, e sabemos como era o sofrimento de um casal judeu naquele tempo que não tinha filhos. Mesmo não tendo filhos, e isso não impedir de que fosse sacerdote pela lei judaica, certamente, havia rejeições, por parte de Fariseus, doutores da lei e outras personagens ditas importantes no templo.
É interessante percebe que o mesmo anjo que anuncia a Maria, Mãe de Deus, também é o mesmo que anuncia a Zacarias que sua esposa Izabel terá um filho, e que, por duvidar do anjo fica mudo até o nascimento da criança, também os relatos dos Evangelhos nos descrevem este fato.
Nascimento (2025),
Zacarias recebeu a visita do anjo Gabriel no templo do Senhor em Jerusalém, durante seus trabalhos no templo. A lhe disse sua esposa Isabel daria à luz um filho, que se chamaria João e seria cheio do Espírito Santo desde o ventre. Zacarias duvidou e, como punição, ficou mudo até o nascimento da criança. Passados alguns dias após o encontro de Zacarias com o anjo, Isabel engravidou. Devido, a idade avançada ela se recolheu em casa por cinco meses para cuidar de sua gestação.
Isabel não falara a ninguém sobre sua gravidez, mantinha tudo em segredo. Sem a permissão de Deus não devemos revelar nada do que ele nos mostra. A Mãe de Jesus vai visitar Santa Isabel, e o encontro é inusitado, o encontro de dois mártires, ainda nas barrigas de suas progenitoras, ao escutar a voz de Nossa Senhora, a criança de Isabel pula em seu ventre e ambas estão cheias do Espírito Santo, que milagrosamente tem seus filhos gerados em seus ventres e anunciados pelo mesmo anjo, Gabriel. É marcante o encontro destas duas mães, santas, e seus filhos santos, Jesus é Deus, e o Batista o último dos profetas, como os outros, é morto, e também Jesus, o Cristo, mortos martirizados.
Desse encontro, assim descreve o Evangelista Lucas:
41. Ora, apenas Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança estremeceu no seu seio; e Isabel ficou cheia do Espírito Santo.
42. E exclamou em alta voz: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre.
43. Donde me vem esta honra de vir a mim a mãe de meu Senhor?
44. Pois assim que a voz de tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança estremeceu de alegria no meu seio.
45. Bem-aventurada és tu que creste, pois se hão de cumprir as coisas que da parte do Senhor te foram ditas!”. Lc 1, 42-44
Nascimento (2025), descreve citando Lucas, que ao nascer o menino, seu pai volta a falar, logo que escreve o nome do menino em uma pequena tábua.
Após o tempo de gestação, ela deu à luz um menino. No dia da circuncisão, a família queria dar o nome do pai à criança, mas Isabel insistia que seu nome deveria ser João. Zacarias, ainda mudo, escreveu em uma placa que o nome da criança era João. No mesmo instante, recuperou a fala e, cheio do Espírito Santo, profetizou sobre o futuro de João, anunciando seu ministério como precursor do Messias.
A vida do Batista foi austera. Vivia no deserto, alimentava-se de mel e gafanhotos, pregava o batismo de conversão, e preparava o povo para apresentar ao Messias, é o que nos diz Nascimento (2025),
O nascimento de João Batista foi marcado por milagres e profecias, revelando a importância de sua missão como precursor de Jesus Cristo. E seus pais que eram incapazes de gerar filhos, recebeu João como presente do Senhor.
Isabel, não só encantou os judeus com este milagre, como encantou cristãos da Igreja nascente, de religiões co-irmãs como Catolicismo OrtodoxoLuteranismo e anglicanismoIslamismo, é o que afirma Nascimento (2025),
Devido sua importância histórico-bíblica e papel como mãe de João Batista, Isabel é reconhecida como uma mulher devota e de exemplo por diversas religiões e vertentes religiosas.
Que em Maria, nos ensina Monfort, possamos desejar sempre a vontade de Deus, e como crianças, recorramos a Ela para receber o amor e o perdão de Jesus em nossas vidas, e possamos ainda refletir diariamente nas virtudes santas da Mãe de Deus, e as praticar exaustivamente, para que possamos ser livres dos males físicos, morais e espirituais.
Quero também eu concordar com Santa Tereza D’ávila quando escreveu o Castelo interior, que “se em alguma coisa o que escrevi não estiver conforme à doutrina da Santa Igreja Católica Romana, será por ignorância, e não por malícia; isto se pode ter por certo, e ainda concordo com ela ao dizer que, sempre estou, estive no passado, e estarei, pela bondade de Deus, sujeito à Santa Igreja no Futuro.
SALVE MARIA SANTÍSSIMA!
REFERÊNCIAS
BENTENCOURT, Estevão. Cristologia. Rio de Janeiro: Mater Ecclesiae, 2009.
Dante Alighieri. Divina comédia. Paraíso, Canto VII, versos 47, pag 33. São Paulo: Pricipis, 2000.
MONTFORT, Luiz Maria Grinion de. Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem. PETRÓPOLIS, R. J. RIO DE JANEIRO: Editora Vozes Ltda. - Segunda Edição, 1943.
NASCIMENTO, Diego Pereira. Isabel. Disponível em https://teologico.club/personagens-biblicos/isabel/acesso em 12/03/2025.
REDEMPTORIS MATER, CARTA ENCÍCLICA, do sumo pontífice JOÃO PAULO II sobre a Bem-Aventurada Virgem Maria na vida da igreja.