Por Pe. Paulo Henrique da Silva
Diretor de estudos do Seminário de São Pedro
O capítulo 6 do Evangelho segundo São João, que lemos na liturgia dos últimos cinco domingo, se conclui, aqui, com a profissão de fé de Pedro – “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna”. Tal profissão deve ser assumida por nós, pois sempre nos deparamos com o questionamento do Senhor, especialmente diante das exigências do discipulado, do que ele significa, do que o próprio Jesus explica. A nossa profissão de fé leva-nos a reconhecer que estamos diante do mistério da comunhão. Participar da Eucaristia nos introduz numa relação que tem um reflexo no sacramento do Matrimônio, celebrado por São Paulo como “grande mistério”. E tal mistério, como tudo o que diz respeito à nossa fé requer uma decisão. Pedro tomou a sua; Josué, na primeira leitura, afirma diante do povo: “eu e minha família, nós serviremos ao Senhor”. E nós? Qual decisão tomamos?
Após a Aliança, instituída por Moisés, com o povo libertado da escravidão do Egito, Josué, seu sucessor, é apresentado como aquele que renova a aliança. Celebrar a Aliança para o povo de Deus é sempre motivo de alegria, mas também de renovar o compromisso com o autor da Aliança, Deus. O povo é chamado a reconhecer a ação de Deus em sua história, a ver como Deus é bom. Jamais podemos esquecer disso. Daí, porque, faz-se necessário renovar nossa fé. Para nós, cristãos e cristãs, toda vez que celebramos a Eucaristia, fazemos a renovação, não da aliança de Israel, mas da aliança nova e terna, daquela que nos introduz na redenção operado por Jesus Cristo, o Filho de Deus: “Todas as vezes que comemos deste pão e bebemos deste cálice, anunciamos, Senhor, a vossa morte, enquanto esperamos a vossa vinda”! O que celebramos na Missa significa que escolhemos servir ao Deus de Jesus Cristo, Aquele que é nossa vida e esperança.
São Paulo, na carta aos Efésios, faz uma aplicação do ensinamento e do significado do Evangelho na vida dos esposos. Trata-se de um conjunto de recomendações para que, na vida a dois, se expresse o que a comunhão eucarística traz para a graça da união conjugal. O fundador de um movimento que cuida da espiritualidade conjugal, Pe. Henri Caffarel, das Equipes de Nossa Senhora, afirmou, certamente inspirado e reconhecedor da graça do sacramento do Matrimônio: “A minha conclusão será breve, uma frase: o matrimônio é a admirável invenção de Cristo para que a eucaristia seja vivida a dois”. Esse é um ensinamento que os casais são chamados a entender: o Matrimônio é um sacramento de missão, não se trata apenas de unir-se como se fosse apenas um contrato civil. Ele é importante, mas para nós, trata-se de um Sacramento, sinal da graça, que necessita ser alimentada pelo Pão da Vida, Jesus Cristo. Ele não só une todos nós em Deus, mas também, une os esposos. E quem é chamado para esse estado de vida, não pode deixar de reconhecer como São Paulo: “Este mistério é grande”. Por que mistério? Porque na relação da carne do esposo com a carne da esposa, vemos um reflexo da união da carne de Cristo, presente no pão consagrado, com a nossa carne. E isso, é grandioso. Nós participamos da grande união de Cristo com sua Igreja.
E não podemos esquecer que tudo acontece na força do Espírito. Jesus afirma no Evangelho que o Espírito é que dá vida. Pois, é o Espírito Santo, invocado para poder acontecer a transubstanciação, o mesmo que possibilitou a Virgem Maria conceber em seu seio o Verbo eterno, o Filho de Deus, o mesmo que recebemos no Batismo, na Crisma, e é o mesmo que é invocado para consagrar os ministros ordenados, bispos, padres e diáconos, como também os que são unidos a Cristo pelos votos. E também, no dia da celebração do Casamento, o assistente, assim é chamado o padre que celebra o casamento, pois os ministros são os noivos, invoca o Espírito Santo, na benção nupcial. Todos nós, somos feitos receptáculos da graça divina, e a graça não é somente algo que recebemos. Ela é, primordialmente, Deus mesmo, pois Ele vem fazer comunhão conosco. E essa comunhão nos faz todos irmãos e irmãs. Viver em comunhão com Jesus faz-nos ser outro Jesus para os outros. Peçamos ao Senhor que em todos os nossos atos, amor, compreensão, cuidado, atenção, respeito, tudo seja ação de Deus em nossa vida, para nossa vida e para a vida dos nossos irmãos e irmãs.
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