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A partilha do bem

Por Pe. José Freitas Campos

Pároco da Paróquia de São Sebastião - Alecrim - Natal


Há pessoas que partilham si mesmas com os semelhantes. São dotadas por Deus do dom da doação. Preocupam-se com o outro, a quem Jesus chamou de "o próximo" Seu existir é um ato de entrega e de disponibilidade. Sua felicidade, em essência, é ver o triunfo do bem. Sua concepção de amar é distribuir, é repartir, é dividir. Em cada rosto contemplam e se contagiam com o triunfo da dignidade humana. Êxtase da Criação. Em cada ser identificam a presença de Deus. Des conhecem o medo, a dúvida, a incerteza, a amargura da nostalgia e a tristeza da solidão. Acalentam em seus corações a esperança, o alimento renovador dos seus sonhos, ideais, princípios e virtudes. A fé lhes apresenta sua forma mais fértil, mais vigo- rosa e mais autêntica: a vivência e o testemunho. Cultivam a verdade como atributo que revigora o homem C sua grandeza. Suas vidas são um poema, elegia uma ao ser humano.


Natal tem sido privilegiada pela existência dessas pessoas. Em todos os tempos. Entre os anos 30 e 70, as árvores, as flores e as aves do céu pareciam tecer um manto.com o qual a natureza embelezava a cidade. Sua fisionomia humana se iluminava com gestos, ações E testemunhos de vida de padre como Luiz Monte e Joseph Bizinger; médicos como Varella Santiago, José Ivo, Clóvis Sarinho, Luiz António e Silvino Lamartine; lideranças beneméritas como Ulysses de Góis, Luiz Soares, Aldo Fernandes, Onofre Lopes e Otto Guerra, todos comprometidos, por sua fé, ou sua profissão, cm elevar a condição humana dos homens e mulheres sem rosto, destituídos de status social, mas impregnados de fé e esperança em Deus e na vida.


Já se disse que as Catedrais medievais, majestosas, muito mais do que expressão magnífica de obra de arte e legado de uma época, estão impregnadas, em cada tijolo, em cada coluna, em cada arcada, do suor, da fé e da esperança dos seus obreiros. Eles, anônimos, transferiram a substância do seu ser, a contemplação do infinito e a descoberta de Deus para o senti- do da construção que ergueram. Todas elas, até hoje, parecem significar um caminho, uma escada, como a de Jacó, no Velho Testamento, em busca de Deus e da eternidade.


Há alguém, em Natal, que ergueu templos nos corações de jovens nas décadas de 50, 60 e 70. Alimentou a fé cristã de gerações e gerações. Era um sacerdote. Tal como Karol Wojtyla, o Deus que ele revelou à juventude foi o Deus do amor, do perdão, da vida, da paz, da consolação, da justiça e da esperança. Esse padre, humilde, simples, obstinado, também foi construtor de catedral. Os jovens daquela época, que com ele conviveram, amaram-no e o admiraram. Até hoje o chamam simplesmente de padre Costa. Esse foi o bispo Antonio Soa- res Costa, o responsável maior pela construção da Catedral de Natal, templo consagrado a Maria Santíssima, a mãe de Jesus.


Lembro-me, ainda hoje, aos nove anos, coroinha da Igreja de Santa Terezinha. O saudoso cônego Luiz Wanderley, após a novena da primeira sexta-feira, mês de maio de 1954, advertiu-me para chegar mais cedo na manhã seguinte. Eu iria acolitar a missa celebrada por um jovem sacerdote: padre Costa. Ali se plantaram uma amizade e uma admiração, que sobrevivem ao seu falecimento em Caruaru, Pernambuco. A cidade lhe deve uma homenagem e um reconhecimento ao seu apostolado e à sua vida de fé em Deus e nos homens.

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