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Esperança cristã


Dom Jaime Vieira Rocha Arcebispo de Natal

Prezados leitores/as!


A Igreja Católica ensina que existem três virtudes que são chamadas de “virtudes teologais”: fé, esperança e caridade. No Catecismo encontramos a definição delas: “De fato, as virtudes teologais referem-se diretamente a Deus e dispõem os cristãos para viverem em relação com a Santíssima Trindade. Têm Deus Uno e Trino por origem, motivo e objeto” (CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA n. 1812). Quero refletir sobre a virtude da esperança, embora sabendo da grande importância que tem a virtude da caridade. Já São Paulo afirmava isso: “Por ora subsistem a fé, a esperança e a caridade – as três. Porém, a maior delas é a caridade” (1Cor 13,13).

A esperança nunca deve morrer. Enquanto estivermos na experiência da fé, ela nunca deve morrer. Sempre associamos esperança com momentos de crise, de dificuldades, de situações perigosas, até mesmo diante da morte. Mas, para a Igreja a esperança é uma virtude intimamente ligada à fé. Ela nos direciona à realidade escatológica, isto é, ao fato de que Deus criou o homem e a mulher para que vivessem neste mundo e seguissem o caminho para a eternidade. Deus é a nossa esperança. A Teologia como reflexão sobre a fé é uma “Teologia da Esperança”. Esse é o título de uma obra teológica que fez muito sucesso na década de 70. Escrito por um grande teólogo luterano, Jürgen Moltman, a obra procura reconhecer a relação entre fé e esperança. Jürgen Moltmann diz que “Na vida cristã, a prioridade pertence à fé, mas o primado, à esperança”. Em outras palavras, a esperança tem seu princípio na fé e dá sentido a ela. A fé em Cristo sem a esperança produz um conhecimento infrutífero, enquanto que a esperança sem a fé é utopia. “A esperança (…) é o ‘companheiro inseparável’ da fé e dá à fé o horizonte que tudo abrange do futuro de Cristo”.

Também o Papa Bento XVI escreveu sobre a esperança. Na sua segunda Carta Encíclica, publicada em 30 de novembro de 2007, intitulada “Spe salvi”, salvos pela esperança. A frase completa “Spe salvi facti sumus”, é extraída da Carta de São Paulo aos Romanos, expressa a convicção do Apóstolo de que a esperança se baseia na ação redentora de Cristo que, sentado à direita do Pai, garante para nós a salvação. Bento XVI lembra a Carta aos Hebreus onde se lê: “A fé é o fundamento da esperança, é uma certeza a respeito do que não se vê” (11,1). No número 13 da Encíclica Spe Salvi, Bento XVI faz uma reflexão bastante interessante e dá uma resposta significativa para o real sentido da esperança. Diante da crítica moderna sobre aqueles que tiveram a coragem de viverem segundo a fé e, assim, abandonarem inclusivamente os bens materiais para a sua existência, o que se configuraria como “puro individualismo, que teria abandonado o mundo à sua miséria indo refugiar-se numa salvação eterna puramente privada” reage o Papa emérito, comentando a obra de um teólogo católico, o francês Henri de Lubac: “A este respeito, Henri de Lubac, baseando-se na teologia dos Padres em toda a sua amplidão, pôde demonstrar que a salvação foi sempre considerada como uma realidade comunitária. A mesma Carta aos Hebreus fala de uma ‘cidade’ (cf. 11,10.16; 12,22; 13,14) e, portanto, de uma salvação comunitária. Coerentemente, o pecado é entendido pelos Padres como destruição da unidade do gênero humano, como fragmentação e divisão” (n. 14).

O Papa Francisco lembrou esse tema na sua Catequese semanal, no dia 1 de fevereiro de 2017. Disse o Papa: “A esperança cristã é a espera de algo que já está consumado; a porta está ali, e eu espero de chegar à porta. Que coisa devo fazer? Caminha até a porta! Estou seguro que chegarei à porta. Assim é a esperança cristã: ter a certeza que eu estou em caminho para algo que é, não que eu quero que seja. Esta é a esperança cristã. A esperança cristã é a espera de uma coisa que já está consumada e que certamente se realizará para cada um de nós. Também a nossa ressurreição e aquela dos queridos defuntos, portanto, não é uma coisa que poderá chegar ou não, mas é uma realidade certa, enquanto radicada no evento da ressurreição de Cristo”.



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