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ARTIGO - O Sínodo e a Eucaristia


Por Pe. Matias Soares Pároco da Paróquia de Santo Afonso Maria de Ligório - Conj. Mirassol - Natal


A Eucaristia é o que existe de mais atual na vida da Igreja, pois esta vive da Eucaristia, como ensinaram São João Paulo II e Bento XVI: “A Igreja vive da Eucaristia. Esta verdade não exprime apenas uma experiência diária de fé, mas contém em síntese o próprio núcleo do mistério da Igreja” (cf. Ecclesia de Eucharistia, 1; Sacramentum Caritatis 14-15)). Tudo que é realizado para formar e fazer com que o Povo fiel de Deus tenha consciência disso é importante. No mergulho sobre a espiritualidade, a identidade e as consequências para a vida e a missão da Igreja do valor da Eucaristia, há o que de mais sublime pode ser reconhecido sobre a dignidade deste augustíssimo sacramento e sobre o próprio mistério da Igreja. Quando pensamos que esta última é corpo místico de Cristo, nos voltamos imediatamente para o significado teológico da própria Eucaristia, em torno da qual o novo povo de Deus congrega-se e fundamenta a sua caminhada como peregrino da esperança (cf. Sacramentum Caritatis, 30-31).


A sinodalidade é a caminhada conjunta de todos os fiéis batizados. Sem o dado objetivo da Eucaristia é difícil pensar e testemunhar essa comunhão eclesial. O voo nas possibilidades das subjetividades humanas é uma armadilha que levou o cristianismo a desvelar numa pluralidade sem forma e confusa. A Reforma Protestante até hoje não encontrou o caminho seguro da unidade. O objeto axial da fé – sola fides – a jogou em muitas barcas à deriva. As confusões continuam ainda mais no contemporâneo, com suas consequências não só teológicas, como também sociais e políticas. Em nossas realidades latino-americanas este cristianismo das subjetividades proliferou novos messias, novos profetas, novos bispos, novos presbíteros e tantas igrejas. Há uma babel capilarizada, na qual o que menos interessa é saber quem é Jesus Cristo (cf. Mc 8, 27-35). Cada um O cria à sua imagem e semelhança. As perversões de hermenêuticas são de acordo com as conveniências, com seus fins tribais e econômicos. Em ambientes católicos também vamos percebendo esses mecanismos de usurpação do reconhecimento da pessoa de Jesus Cristo, com muitas formas pós-modernas de pregação do evangelho, inclusive com algumas modas de celebrações.


Sendo assim, quando pensamos um grande momento, como um Congresso Eucarístico, o que temos em mente é um mergulho no sentido profundo do que é a Eucaristia para a vida da Igreja e para o mundo. O sacramento que atualiza, no coração e na vida do povo de Deus, a pessoa de Jesus Cristo, é a Santíssima Eucaristia (cf. 1 Cor 11, 17-34; Mt 26, 26-29; Mc 14, 22-25; Lc 22, 14-20). A Arquidiocese de Natal, que está sendo preparada para viver o seu Sínodo, pode ter neste aprofundamento teológico, celebrativo e testemunhal, o elemento diretivo para que a sua caminhada sinodal e diocesana seja potencializada. A Igreja sempre teve na Eucaristia esse ponto fundacional. Nela a experiência qualitativa e quantitativa da fé católica ganhou corporalidade e funcionalidade. Em todos os recantos do mundo, na Santíssima Eucaristia, os católicos são reconhecidos e fortalecem-se mutuamente. Isso é sinodalidade. Essa é a mais bela fisionomia da Igreja. Essa redescoberta mistagógica da Eucaristia precisa ser redefinida em nossa Igreja Local que, por sua vez, nos vincula mais conscientemente à Igreja na sua totalidade.


Por fim, gostaria de relacionar a Eucaristia com a missão, assumindo as palavras de Bento XVI, quando ensina: “a Eucaristia é fonte e ápice não só da vida da Igreja, mas também da sua missão: ‘Uma Igreja autenticamente eucarística é uma Igreja missionária. Havemos, também nós, de poder dizer com convicção aos nossos irmãos: ‘Nós vos anunciamos o que vimos e ouvimos, para que estejais também em comunhão conosco’ (cf. 1 Jo 1, 2-3). Verdadeiramente não há nada de mais belo do que encontrar e comunicar Cristo a todos! Aliás, a própria instituição da Eucaristia antecipa aquilo que constitui o cerne da missão de Jesus: Ele é o enviado do Pai para a redenção do mundo (cf. Jo 3, 16-17; Rm 8, 32). (...) A tensão missionária é parte constitutiva da forma eucarística da existência cristã” (cf. Sacramentum Caritatis, 84). Por isso, é louvável que no contexto das celebrações do Sínodo arquidiocesano, a Igreja Particular de Natal celebre um Congresso Eucarístico, para que o Mistério da Fé do povo santo de Deus seja mais profundamente conhecido, amado, adorado e testemunhado na Igreja e na sociedade. Deste modo, ganharemos mais ânimo, determinação, alegria e força para sermos uma Igreja sinodal, missionária e mais misticamente eucarística. Assim o seja!

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