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ARTIGO - O nome de nossos óculos é Francisco

Diác. Eduardo Bráulio Wanderley

Paróquia de São Camilo de Léllis - Lagoa Nova - Natal


O cardeal Bergoglio estava ali no conclave de 2013. Já era eminente entre os eminentes cardeais. Parafraseando George Orwell, todos os cardeais são iguais, mas alguns cardeais são mais iguais que os outros. Seu nome, entretanto, não era da mídia. Preocupado com a igreja, ele fez um discurso em uma das congregações gerais privativas dos cardeais que inflamou positivamente o coração dos seus irmãos. Disse que a igreja precisa escolher em ser autorreferencial, que gera a mundanidade espiritual, ou a mysterium lunae (mistério da lua), capaz de refletir a luz de Cristo em todos os lugares. Mais tarde, eleito, ele autorizou a publicação de seus manuscritos. E o que hoje precisamos?


Doze anos se passaram e a marca de Francisco, o papa simples, o papa humano, o papa humilde, o papa terno, está mais que nunca presente em nossos corações. Costumo dizer que a realidade última do homem nunca é a morte. Mesmo porque, apesar de não produzir mais com os mesmos meios que nós, ainda em nossa peregrinação terrena, ele permanece vivo em nossa memória e continua a influenciar nosso pensar.


O mundo é polivalente, tem vida própria, se movimenta, se move. Em 2007, em Aparecida, os bispos da América Latina e do Caribe, descreveram a fase histórica de nossos tempos. Diziam que estamos não apenas em uma “época de mudanças, mas em uma mudança de épocas”. De fato, são tantas as mudanças que nos perguntamos onde vamos parar, se é que vamos parar. Não estamos distantes de completar 20 anos dessa reunião de Aparecida e já passamos por dois pontificados. Se retroagirmos ao Concílio Vaticano II e nos dermos conta dos escritos de uma de suas constituições, Gaudium et Spes (Alegrias e esperanças), vamos ver que a instalação de uma cultura do descartável já está prestes a completar 60 anos. Cinco pontífices já se passaram desde então. Se formos mais rigorosos seremos ainda capazes de olhar os sinais anteriores, mas basta essas referências para entendermos que a sociedade ainda escorrega para acompanhar o ritmo atual da revolução eletrônica de alta escala. Nosso relógio social é mais lento.


Na orfandade humana gerada por um cronômetro que corre muito além do tempo nós corremos o risco do encantamento com o passado, lugar onde o cronômetro e tempo estavam síncronos (retrotopia). Corremos o risco de uma ansiedade generalizada por estarmos sempre aquém do bonde que queremos pegar e que nem sempre é alcançável. Estamos prontos?


E a Igreja, como deve se mover nesses tempos? É aqui que devemos considerar a eleição de um novo pontífice: na orfandade da sociedade anacrônica em relação ao seu próprio relógio. Precisamos nos ocupar desses pequeninos. É preciso olhar aqueles que não darão conta da revolução do tempo. É um olhar que precisa incluir. Há muitos lugares, e todos nós sentimos na pele, que cada um de nós não passa de um registro, um número de CPF, um número numa camisa de futebol do time do bairro. Passaremos sem deixar marcas. Nossa igreja precisa muito, e muito, de um olhar de acolhimento,onde não sejamos o fiel 152 da ficha do dízimo, mas sim Eduardo, João, Maria dos Anjos, Paula. Não tenho dúvidas que esse era o olhar de Francisco.


Nossos óculos atuais ainda têm o nome Francisco. E vejo que a sociedade ainda precisa desses óculos, mesmo que seu portador tenha um nome bem diferente.


Oremos: Suplicamos, ó Deus, com humildade: que vossa imensa piedade conceda à Sacrossanta Igreja Romana um pontífice; que seu zelo por nós possa ser agradável a Vós; que seja assíduo no governo da Igreja para a glória e reverência do Vosso Nome. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo, Deus, por todos os séculos dos séculos. Amém.

 
 
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