ARTIGO - Francisco, a elevação da humildade e da simplicidade
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Por Pe. Paulo Henrique da Silva
Diretor de estudos do Seminário de São Pedro
Que escolha, Francisco! Tudo começou com a escolha de teu nome, “Francisco”; eras um jesuíta, a primeira vez de um jesuíta e primeira vez que alguém escolheu esse nome, e alguns esperavam que tu te chamasses “Clemente” ou “Adriano”, por uma vingança ao tempo da supressão da Companhia ou porque era preciso reformar. Mas, escolheste “Francisco”, inspirado por um cardeal brasileiro: “não te esqueças dos pobres”, assim Dom Cláudio te falou. Depois, tu escolheste a misericórdia, como mensagem central do Evangelho, como palavra-chave para entender a fé cristã. Escolheste a alegria para anunciar a toda a Igreja, ao mundo: “Evangelii gaudium” (2013), “Amoris laetitia” (2016), “Veritatis gaudium” (2017) “Gaudete et Exsultate” (2018), … Escolheste defender quem não se defende por si só: a criação, com “Laudato si” (2015) e “Laudate Deum” (2023), a fraternidade universal, com “Fratelli tutti” (2020), os pobres, com o Dia Mundial dos Pobres, os idosos e os avós, com o Dia Mundial dos Avós e dos Idosos. Escolheste defender os imigrantes, povo que sai de sua terra por causa da guerra, da destruição, e nos ensinaste que ninguém é estrangeiro quando se tem um coração grande e que acolhendo o outro, é a Cristo que se acolhe.
Escolheste, até a humildade, beijando os pés daqueles que precisavam trabalhar a paz, escolheste ir a tantos lugares, das periferias, sem tradição cardinalícia e, com amor e respeito, deste chapéu vermelho a bispos, pastores de igrejas distantes. Escolheste abaixar-se, lavando os pés de mulheres, de presos, de outros homens e mulheres pertencentes a outras religiões. Escolheste dizer que Deus perdoa sempre, que tu mesmo eras um pecador, que “quem sou eu para julgar”.
Escolheste a “Sinodalidade”, como definição precisa da Igreja, do tempo apostólico aos dias de hoje. Escolheste viver a “espiritualidade conciliar”, do anúncio para a Igreja e o mundo, de que as “alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens e das mulheres de hoje são as alegrias e as esperanças, as tristezas e as alegrias dos discípulos e discípulas de Jesus Cristo, e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração” (CONCÍLIO VATICANO II. Constituição pastoral sobre a Igreja no mundo contemporâneo Gaudium et spes, 1). Tu nos ensinaste, na esteira do Concílio, que nada que toca o ser humano deve encontrar a nossa indiferença.
Obrigado, querido Francisco. Obrigado porque nos exortaste a ser pobre, a despojar-nos, a nos desvencilharmos do supérfluo. Mas, obrigado mais ainda porque gritaste para nós, muitas vezes insensíveis, autorreferenciais, triunfalistas, esbanjadores, derrotistas e pessimistas: “Não deixemos que nos roubem a alegria da evangelização!”, “Não deixemos que nos roubem a esperança!”, “Não deixemos que nos roubem a comunidade!”, “Não deixemos que nos roubem o Evangelho!”, “Não deixemos que nos roubem o ideal do amor fraterno!”, “Não deixemos que nos roubem a força missionária!” (FRANCISCO. Exortação Apostólica Evangelii guadium, nn. 78-109). Francisco, um santo que nos ensinou que para ser santo é preciso somente amar, a todos, sem exceção.
Por fim, escolheste um outro lugar para ser sepultado: não as grutas vaticanas, mas um lugar bem específico: aos pés da Senhora, a Maior, Aquela que cantou as maravilhas do Senhor - “depôs os poderosos de seus tronos, elevou os humildes”.
Assim, tão simples! Como foi a vida dele, desde que era bispo, cardeal, assim como Pontífice, e ainda, no sepulcro. Poderíamos perguntar: “o que foi esse tempo”? Papa Francisco foi um delicado gesto da ternura divina, não só para a sua Igreja, mas também para o seu mundo. Ele foi um chamado ao autêntico sentido do Evangelho, da fé, do ministério, da doutrina.
Obrigado, Senhor, por ter mandado Francisco, para nos converter ao Pobre de Nazaré. Perdoa, Senhor, os ultrajes, as ofensas, as incompreensões, até mesmo dos ministros de nossa Igreja, mas, enche nossos corações de gratidão, de esperança e de coragem, para que o “efeito Francisco” não nos abandone jamais.