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ARTIGO - Advento: Tempo de Esperançar…


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Por Pe. Luiz Antônio Aguiar da Silva Vice-reitor do Seminário de São Pedro

O Ano Litúrgico na Santa Igreja começa com o Advento. Advento (do latim ad, para, e venio, vir, chegar), é o tempo litúrgico destinado à espera da segunda vinda de Cristo Jesus (Parusia), por meio do qual se atualiza a memória do sagrado mistério da Encarnação da Palavra de Deus: “E o Verbo se fez carne e habitou entre nós; e nós vimos a sua glória, como a glória do Unigênito do Pai, cheio de graça e de verdade” (Jo 1,14). Podemos definir, também, este tempo como uma longa preparação ao Santo Natal. A Igreja estabeleceu quatro semanas de preparação à comemoração do nascimento do Filho de Deus. Precisamos viver este espírito do Advento, fazendo nossas as invocações dos profetas, que a Igreja nos recorda na sagrada liturgia, e devemos repeti-las com frequência, à maneira de jaculatória: “Oh! Se rasgásseis o céu e descêsseis!” (Is 63, 19). No Missal Romano já encontramos, no Prefácio do Advento II, uma grande exortação: “Foi Ele que os profetas predisseram, a Virgem esperou com amor de mãe, João Batista anunciou estar próximo e mostrou presente no mundo. O próprio Senhor nos dá a alegria de nos prepararmos desde agora para o mistério de seu Natal, a fim de encontrar-nos vigilantes na oração e celebrando exultantes os seus louvores” (pág.: 453).


  Este trecho tão belo do Prefácio refere-se a Jesus Cristo, cuja vinda já havia sido profetizada no Antigo Testamento (como em Isaías 9). Descreve a espera da Virgem Maria pela vinda de Jesus, enfatizando o papel dela como mãe, mesmo que a espera seja de um modo "maternal" e de fé. A anunciação do anjo Gabriel a Nossa Senhora é um exemplo de como ela esperou (cf. Lc 1, 26 -38). Destaca, ainda, o papel de João Batista como o profeta que precedeu Jesus, preparando o caminho e anunciando a Sua vinda ao mundo (cf. Mc 1, 1-8). Ele é descrito como a ponte entre a espera e a realização da vinda do Messias. O trecho do Prefácio ressalta que a preparação para o Natal é um presente de Deus, para que os fiéis se alegrem com a oportunidade de celebrar o mistério do Natal. Enfatiza a importância de uma atitude de expectativa e preparação ativa. Os fiéis devem se manter vigilantes em oração, louvando a Deus e celebrando com alegria a vinda do Salvador. Ou seja, diante disso tudo, o Advento é este tempo de “esperançar”.


A celebração litúrgica própria do Advento é o lugar da experiência do mistério de Cristo e, ao mesmo tempo, pedagogia eficaz para o aprofundamento da fé e da espiritualidade cristã. Sem dúvida, viver intensamente o tempo do Advento, expectativa da vinda do Natal e da plena manifestação (epifania) do Senhor, é literalmente esperançar, verbo que significa “dar esperança”, “animar”, “estimular” (Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, verbete “esperançar”, p. 852). O tempo do Advento é tempo de esperança e renovação de todas as coisas, pela consciência do que nos falta: libertação das nossas misérias e fraquezas. É tempo para reconhecer o quanto já somos de Deus e não voltarmos à condição de eterna ovelha desviada. Essa deve ser a nossa atitude: “Esperançar”. Não simplesmente “esperar”. Esperar” seria uma atitude passiva. Aguardar que algo aconteça sem tomar iniciativa. É como ficar parado, esperando que as circunstâncias ou outras pessoas resolvam a situação. É delegar a responsabilidade das próprias escolhas a outrem e se acomodar diante da vida. Ao passo que “Esperançar” é uma atitude ativa e transformadora. Não se trata apenas de ter esperança, mas de agir com base nela. É a disposição para lutar, construir e buscar aquilo que se deseja, mesmo diante de dificuldades. “Esperançar” é se mover em direção ao que se acredita, com coragem e determinação, tornando-se protagonista da própria história.


Como nos disse o Papa Francisco, “O tempo do Advento (…) restitui-nos o horizonte da esperança” (Papa Francisco, 01/12/13). O Profeta Isaias, o profeta da esperança, nos diz: “O povo que andava nas trevas viu uma grande luz; sobre aqueles que habitavam uma região tenebrosa resplandeceu uma luz. (…) porque um Menino nos nasceu, um Filho nos foi dado; a soberania repousa sobre seus ombros, e ele se chama: Conselheiro admirável, Deus forte, Pai eterno, Príncipe da paz. Seu império será grande e a paz sem fim sobre o trono de Davi e em seu reino…” (Is 9,5-7). É nesta esperança que celebramos o Advento. A esperança da vinda do nosso Salvador. Sim! O Senhor vem! Aquele que nunca nos deixou e vem sempre nas pequenas coisas e ocasiões da vida, Ele mesmo virá, um Dia, no fulgor da Sua Glória: Ele, nossa justiça, Ele, nossa esperança, Ele, nosso Salvador!

Vivamos bem nosso Advento, vivamos bem os dias de nossa vida, à luz do Dia do Cristo que vem! Que caminhemos com os pés bem firmes neste mundo e os olhos voltados para o alto. O Advento é este convite à preparação do coração, à espera vigilante e à esperança confiante. É um convite para “Esperançar”. Que possamos vivê-lo com intensidade, acolhendo o Cristo que vem e deixando-nos transformar por sua presença em nossas vidas. Assim, quando o Natal chegar, poderemos dizer com alegria e gratidão: “Vem, Senhor Jesus!” (Ap 22,20). 

 

 

 

 
 
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