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ARTIGO - Alteridade e diálogo, caminhos para a prática do diálogo interreligioso


Por Pe. José Marcos de Lima Diretor espiritual do Seminário de São Pedro

                                                                  

 

Muito se tem falado sobre mundo plural, pluralismo cultural, religioso, artístico, político, etc. O problema reside no fato de que nem sempre procuramos conceituar o que dizemos. Então, se faz necessário a busca por uma conceituação dos termos. Quando falamos em pluralismo estamos nos referindo à ideia da convivência de vários pensamentos dentro de múltiplas esferas, cultural, religiosa, políticas. Essa convivência pode ou não ser harmoniosa. Torna-se plural pelo simples fato de coexistirem no ambiente comum, a sociedade.  


Nessa pluralidade de ideias e pensamentos se faz necessário dois caminhos que se tornam essenciais para uma boa convivência numa sociedade plural, a saber, o caminho da alteridade e o caminho do diálogo. Para o filósofo Emanuel Lévinas, alteridade é a capacidade de reconhecer que tudo que não é o Eu é diferente de mim. Do latim, alteritas, significa que todo ser humano interage e é interdependente do outro. É a capacidade de reconhecimento da especificidade do outro. A alteridade é a base para o diálogo.  


Já o diálogo diz respeito a capacidade de saber cultivar uma relação na qual a alteridade se faz essencialmente presente. Diálogo é a expressão que evoca duas palavras gregas: dia = através de. + logos, que significa razão. Dialogar é mais do que um simples conversar. É uma busca pela compreensão do que é diferente, para assim construir significados que unem o que aparentemente está dividido.  


Com essas premissas podemos entrar no que diz respeito ao diálogo interreligioso. Sabemos que diálogo sempre está em comunhão com alteridade e compreensão, e no tocante a isso, nossa visão dentro da pluralidade de cosmovisões religiosas se torna mais abrangente. A sociedade religiosamente falando é plural e formada por inúmeras espiritualidades, desde as mais antigas e tradicionais, até às mais recentes que configuram o complexo campo religioso atual.   


Aqui se faz necessário diferenciar diálogo ecumênico e diálogo interreligioso. O diálogo ecumênico é construído entre as igrejas que se afirmam como seguidoras da árvore comum do cristianismo, de acordo com o seu fundador, Jesus Cristo. Já o diálogo interreligioso acontece pela aproximação entre as religiões que foram formadas a partir de culturas e sociedades diferentes. Elas trazem em si tradições e doutrinas diferentes, porém identificadas por um elemento nuclear que podemos chamar de sagrado, segundo a concepção de Mircea Eliade, para o qual, dentro do que é profano o sagrado se manifesta como sendo o seu oposto. Manifestando assim a existência do homem religioso que é o buscador do que é sagrado. Nesse sentido cada tradição religiosa apresenta ao ser humano um caminho que se torna para ele a possibilidade de união com transcendente. Esse caminho ou meio é que se chama sagrado.  


Na convivência com pessoas de religiões ou crenças diferentes é importante cultivarmos essas virtudes humanas da alteridade e do diálogo para uma presença harmoniosa diante do que é diferente. Se queremos uma sociedade baseada na busca pela paz não podemos nos esquivar dessa realidade. É válido saber que o diálogo entre as religiões é de grande valia para um mundo mais fraterno onde aquele que chamamos de Deus ou o transcendente não seja apresentado como um divisor, mas, sim como o que une e dá esperança ao coração humano. 

                                                                                            

 

 

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