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Vida em Cristo, nossa vocação e nossa espiritualidade

Por Pe. Paulo Henrique da Silva Professor de Teologia


É para o Senhor que vivemos. Pertencemos ao Senhor. Esta é a definição de nossa vida de fé, de nossa espiritualidade, o sentido de nossa santidade e de nossa salvação eterna. E também a fisionomia de nossa missão no mundo. A Palavra de Deus nos exorta a que aprendamos a viver dessa forma. Essa é a nossa vocação e a nossa espiritualidade.


A gratuidade do amor de Deus por nós é a grande fonte de nossa vida. Uma gratuidade que se manifesta no perdão que recebemos. Mas, também nos outros dons e, de modo especial, na consciência de uma vida que tem em Deus sua razão de ser, sua origem e seu fim: fim, não só temporal, mas como destino, como plenitude, e a partir do qual a morte é apenas  fenômeno que não deve deixar-nos confusos ou amedrontados, mas apontar para a realidade que conta e da qual não temos controle e nem damos origem: a graça de nossa união com Deus,  a nossa transformação em Cristo, de que nos fala São Paulo, ou como diz  Santa Elisabete da Trindade: em ser “como uma humanidade de acréscimo para o Verbo encarnado, onde Ele possa realizar o seu mistério”, ou como Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein), que afirmou na obra “Ser finito e Ser eterno” que nesta relação se encontra o sentido mais profundo da realidade do ser do homem, o que o faz um “eu vivente”.


A união com Deus, uma vida transformada em Cristo, o nosso eu vivente é um eu concreto. Neste sentido, uma chave de compreensão da Sagrada Escritura é esta: Deus se comunica no contexto da história dos homens e mulheres. Deus é Espirito, disse Jesus, mas quando Ele quer comunicar-se para fora de si mesmo, Ele põe a concretude, isto é, para Deus unir-se a outro ser que não é Ele mesmo, Ele cria um ser material. Daí, concordarmos com um pensador católico, o padre jesuíta Pierre Teilhard de Chardin: somos um ser espiritual que tem uma experiência material. A realidade concreta nos coloca na história. A história não é vista apenas como o suceder-se dos acontecimentos, mas também como a trama das relações. Uma primeira e fundamental relação é com o próprio Deus. A mesma Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein) lembra na sua obra citada, a doutrina dos Padres da Igreja, de modo especial, a de Santo Agostinho, sobre a natureza humana sendo “vestigium trinitatis”, chamada a ser imagem da Trindade. Temos relação com o nosso semelhante, uma relação de igualdade e capaz de amar, e temos uma relação de superioridade em relação ao mundo, o que não nos faz autorizados a destruir, mas a cuidar para que não se transforme em lugar de pecado.

Assim, entendemos o que a Palavra nos ensina de modo bem explícito: rancor, raiva e falta de perdão, não são realidades ou sentimentos apropriados nem quando pensamos na realidade mais profunda de nosso ser, como também não se coaduna com a nossa vocação em Cristo, como seus discípulos e discípulas. Essa dupla condição: ser e ser em Cristo, estão profundamente unidos. E por isso, é preciso sempre retomar, reanimar nossa vocação. Ou como afirmou nossa amada Santa Elisabete da Trindade: cuidar da “grandeza de nossa vocação”, como escreveu para sua amiga Francisca de Sourdon, nos últimos meses de sua vida terrena. E como faremos isso? Com dois elementos indispensáveis de nossa vida de fé: perdoar sempre e ser louvor de glória da Santíssima Trindade. Perdoar porque somos perdoados. A parábola do empregado perdoado, mas que não perdoa, deve ser observada por nós. Deus nos perdoa, mas precisamos perdoar o nosso irmão, a nossa irmã. Não perdoar leva-nos a ver a desistência de Deus ao perdão dado a nós. E isso seria a morte de nossa vida, a morte da nossa união com Ele. Estejamos, portanto, sempre unidos a Ele, louvemos o seu amor incondicional e deixemos que Ele nos coloque no oceano insondável de sua Unidade na Trindade e Trindade na Unidade, essa imensidade onde estamos como um grão de areia, mas homens viventes, mulheres viventes.

 

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