Diác. Francisco Teixeira,
Assessor Jurídico da Arquidiocese de Natal
Volta e meia, ouve-se, no âmbito da liturgia da Palavra, na Igreja Católica, a elocução: “Igreja em Saída” – que revela a preocupação do Papa Francisco, diante do modelo e práticas de uma Igreja autocentrada, que em muitos setores e ações pastorais ainda perdura. E ao nos desafiar para sairmos do comodismo pastoral em que nos encontramos, o Papa nos provoca a verificar se as estruturas administrativas e gerenciais existentes nas dioceses estão aptas a se colocarem como instrumentos facilitadores das relações entre os vários organismos, agentes de pastorais, independentemente da função ou encargo que exercem; e das forças vivas e atuantes nas comunidades paroquiais, para que o processo de uma “Igreja em saída” torne-se, de fato, efetivo. Para que o apelo do Papa argentino produza a eficácia desejada, impõe-se a cada fiel batizado o despertar da consciência de que todos, sem exceção, somos responsáveis pela Missão da Igreja. Porque todos pertencemos à Igreja, à comunidade santa do Povo de Deus. Ninguém fica de fora ou excluído.
O grito do Papa, ecoado na exortação apostólica Evangelli Gaudium, como em seus gestos e atitudes para uma “Igreja em saída”, quer encorajar a todos os agentes internos da Igreja - sejam leigos ou ministros ordenados - a assumirem uma nova postura, uma nova dinâmica, um novo estilo de anunciar o Evangelho nas realidades em que se encontra cada homem e cada mulher. Nunca descrer que a Palavra de Deus encarnada na Pessoa de Jesus, o Emanuel (o Deus-conosco), é a “Boa Notícia”, e como tal, há de penetrar no âmago dessas mesmas realidades e desencadear alegria, criatividade, ousadia, novas estruturas de acolhida, misericórdia, participação e, humanização, que é uma das carências que tanto afeta o ser humano no convício social na atualidade.
Frente a tão urgentes desafios, a Igreja tem publicado muitos documentos, orientações, diretrizes para manter atualizada a ação evangelizadora. Contudo, nesses últimos tempos, nota-se que esses esforços padecem de uma certa ineficiência, na leitura e aplicação destes subsídios e instrumentos, e, como consequência, está gerando um certo cansaço e até esterilidade em suas ações e atividades pastorais. Talvez isso explique a passividade dos agentes pastorais e dos fiéis batizados frente aos desafios à concretização da Missão da Igreja.
Urge reencantar a comunidade dos fiéis batizados para se inserirem ativamente na Missão da Igreja no mundo como autênticos promotores e, portanto, como verdadeiros protagonistas da evangelização. Para isso, é necessário encarar a atividade pastoral dentro de uma nova visão de Igreja, pois muitas de suas práticas anteriores tornaram-se ultrapassadas e antiquadas.
Na real situação em que a sociedade atual se encontra, esta nova visão de Igreja, que se coloca em estado permanente de saída, necessita direcionar a sua ação de maneira a se comprometer mais direta e eficazmente com a transformação de estruturas injustas que destroem esperanças e são causadoras de vários tipos de opressão. Vivemos hoje numa sociedade global, técnico-científica e informatizada que está imersa num contexto quase totalmente urbano, dentro do qual práticas antigas, pré-modernas e supostamente rurais não atendem mais aos anseios e expectativas do homem e da mulher da pós-modernidade. Porém, deste contexto pode irromper novas oportunidades. Alguém que se coloca como observador do desenvolvimento do ser humano expresso na linha do tempo da história, logo verá que, de tempos em tempos, novos caminhos se abrem, novas abordagens surgem considerando a relação entre história, religião e sociedade. A trama religião, política e sociedade lembra fatos que vão além da história do tempo presente e “remete ao conhecimento do que foi, embora de forma diferente, e dessa forma possibilita ver também o que há de novo” (MONTENEGRO, 2010, p.18). A partir daí, importa o percurso da busca e a conquista do novo. Então, não há espaço para desânimo ou frustração. Importa compreender que o ser cristão é entendido desde a origem do cristianismo como identificação com Jesus Cristo. Significa que cada batizado é chamado a assumir de forma consciente, livre e ativamente um projeto de vida por Jesus vivenciado, e a nós proposto como caminho de salvação. Trata-se, pois, de um segmento exigente que convida cada indivíduo a superar o “homem-velho” e buscar o “homem-novo” mediante a vivência da lei fundamental do amor. E é, dessa condição fundamental, que emerge toda igualdade dos seguidores de Jesus Cristo, assim como a diversidade de funções e serviços na comunidade cristã (Cf. 1Cor 12,12-27; Ef 4,11s).
Somos, pois, Corpo Místico de Cristo. Sendo corpo, a Igreja tem uma multiplicidade de membros que, unidos entre si, auxiliam-se mutuamente. Como membros deste Corpo que é a Igreja, somos convidados a produzir novos membros. Não há como entender a Igreja como um grupo fechado, que exclui, cancela ou ignora alguns. Ainda que existam grupos excludentes, voltados totalmente para si próprios, não podemos perder de vista nossa consciência como corpo católico, isto é, universal, aberto a todos. Abrir-se a essa verdade decorrente da fé que professamos exige conversão eclesial.
O Papa Francisco, na exortação apostólica Evangelli Gaudium, nos recorda que “O Concílio Vaticano II apresentou a conversão eclesial como a abertura a uma reforma permanente de si mesma por fidelidade a Jesus Cristo: “Toda a renovação da Igreja consiste essencialmente numa maior fidelidade à própria vocação. [...] A Igreja peregrina é chamada por Cristo a esta reforma perene. Como instituição humana e terrena, a Igreja necessita perpetuamente desta reforma”” (EG, 26), para que “a linguagem e toda estrutura eclesial se tornem um canal proporcionado à evangelização do mundo atual que à autopreservação. A reforma das estruturas, que a conversão pastoral exige, só se pode entender nesse sentido: fazer com que todas elas se tornem mais missionárias, que a pastoral ordinária em todas as suas instâncias seja mais comunicativa e aberta, que coloque os agentes pastorais em atitude constante de “saída” e, assim, favoreça a resposta positiva de todos aqueles a quem Jesus oferece a sua amizade” (EG, 27).