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ARTIGO - Reciclar a Missão da Igreja no Campo Social


Francisco Teixeira,

Diácono da Igreja Católica, em Natal.

 

A missão da Igreja, seguindo o mandamento de Jesus Cristo, é levar o Evangelho da salvação a todos os povos de todos os quadrantes da terra. Sim! Levar e oferecer a todos, sem quaisquer distinções, o Evangelho, que no dizer de São Paulo, nos liberta (Gl.5,1) e nos salva (Ef.1,13), tornando-nos, assim, concidadãos do Reino (Ef.2,19). Então, a Igreja, para ser fiel a essa missão – e ela precisa ser fiel ao mandato de Jesus  –  a assume como dever permanente de cada batizado que faz do testemunho de vida, o meio mais eloquente da propagação da Boa Nova no ambiente da família, do trabalho e do seu lazer, entre outros lugares ou circunstâncias em que cada um se encontrar. Vê-se, pois, que o destinatário do mandato de Jesus é o homem e mulher concretos.

 

Assim, o Evangelho deve alcançar não apenas o coração da pessoa humana, mas, também, o meio e a realidade onde essa pessoa pisa e vive. Pois, a Palavra se fez carne e veio morar entre nós (Jo.1,14), para nos salvar e, conosco, salvar toda a criação. Por isso, para ser fiel à missão da Igreja, o fiel batizado há de entender e assumir que a dimensão social da missão da Igreja é parte intrínseca do ato de evangelizar, já que o Evangelho impõe, necessariamente, a transformação da pessoa e, com esta, de toda a realidade que lhe cerca.

 

No tocante à dimensão social, esta se concretiza na Igreja, através da Pastoral Social, como ação específica que torna presente o Serviço da Caridade, pelo qual a Igreja atua nas estruturas da sociedade fazendo com que o Evangelho penetre, tenha força e eficácia para a transformação das pessoas e das estruturas sociais (EG,362). No tempo corrente, e, analisando a situação de crise em que se encontram muitas das obras, serviços e pastorais sociais, até centenárias, criadas do coração da Igreja Católica, no Brasil, nas áreas da educação, saúde e assistência social, e muitas frutos da sexagenária Campanha da Fraternidade, temos a sensação de que muitos de nós demos às costas a essas iniciativas e instituições, deixando-as até abandonadas, quando ainda não se encontram ao abrigo de abnegadas religiosas. Quase ninguém tem procurado compreender os fortes desafios e exigências que se abateram sobre essas organizações. O preço de tal alheamento tem sido a desestruturação do Serviço da Caridade nas dioceses e comunidades cristãs.

 

Naquelas em que ainda essas organizações atuam por força e santa “teimosia” de alguns fiéis leigos e religiosas comprometidos com a Evangelização e com a defesa e promoção da dignidade da pessoa humana e de toda a criação, em todas as suas dimensões, impõem-se, com urgência, reciclar sua missão e atuação no campo social, a fim de adequar suas atuais estruturas às necessidades e exigências do nosso tempo. Refletindo sobre a Missão Evangelizadora da Igreja, Nadi Maria de Almeida, em artigo publicado na Revista de Cultura Teológica, nº 102(PUC/SP, 2022), nos previne que “diante da realidade e do contexto atual de pós-modernidade, a Igreja depara com dificuldade de caminhar e responder a todos os desafios que esta sociedade apresenta. Segundo Conrado (2011, p. 83), a Igreja se encontra com dificuldade de motivar as pessoas, de formá-las, “para o processo de evangelização, de adequar sua atuação às culturas, estruturas próprias do novo tempo”.

 

Mesmo que desde o Vaticano II a Igreja vem se renovando e levando avante sua missão é preciso ser mais ousados e abrangentes. O mesmo autor afirma que “é preciso novas estruturas, diferentes estratégias”, e em especial uma transformação de si própria. Ou seja, é preciso uma profunda e sincera conversão”. E conversão significa uma transformação interior e exterior ou uma modificação que acontece na vida que muda totalmente de caminho, de direção e de sentido. É quando acontece a mudança radical de um caminho torto para um caminho correto, de uma direção extraviada e sem rumo, para uma direção certa que tem sentido e ponto certo de chegada. 

 

Os documentos do Magistério da Igreja Latino-Americana conceituam conversão como um discernimento dos caminhos tomados para uma mudança radical, uma conversão que leva a tomar novos caminhos, nova direção diante do clamor do povo por justiça e vida digna. Já o Papa Francisco na Evangelii Gaudium afirma: “A Igreja peregrina é chamada por Cristo a esta reforma perene. Como instituição humana e terrena, a Igreja necessita perpetuamente desta reforma”. Há estruturas eclesiais que podem chegar a condicionar um dinamismo evangelizador; de igual modo, as boas estruturas servem quando há uma vida que as anima, sustenta e avalia. Sem vida nova e espírito evangélico autêntico, sem «fidelidade da Igreja à própria vocação», toda e qualquer nova estrutura se corrompe em pouco tempo” (EG, 26). Se as estruturas eclesiais não visibilizarem Jesus Cristo, então de nada servirão ao Evangelho.

 

O Concílio Vaticano II apresentou a conversão eclesial como a abertura a uma reforma permanente de si mesma por fidelidade a Jesus Cristo: “Toda a renovação da Igreja consiste essencialmente numa maior fidelidade à própria vocação” (EG, 26). Então, continuar no estado de alienação em que alguns preferem adotar, é ignorar que os problemas e desafios do tempo presente são gerais, e, por isto, requerem soluções globais. E que ninguém os pode resolver sozinho. Daí decorrer que a ação da Igreja necessita ser orgânica, isto é, atingir, de modo ordenado, planejado, a globalidade dessa realidade. Essa união íntima e o esforço comum da ação pastoral da Igreja, não diminuem a liberdade, nem a autonomia, nem a responsabilidade das pessoas, mas, pelo contrário, elimina os efeitos prejudiciais provocados pelo isolamento e dispersão das ações e atividades. Não temos dúvidas de que, se não sairmos da indiferença com que tem sido tratadas muitas dessas organizações pastorais e sociais,  que arruína o belo legado transmitido  por inúmeros leigos e clérigos à Igreja do tempo, seremos cobrados pelo Senhor da História, pois, a evangelização a que somos chamados a realizar, comporta uma mensagem explícita, adaptada às diversas situações e continuamente atualizada sobre: os direitos e deveres da pessoa humana; a vida familiar; a vida em comum, na sociedade;  a paz, a justiça e o desenvolvimento; o cuidado com mãe natureza e as questões climáticas; e, uma mensagem vigorosa, em nossos dias, ainda, sobre a “Libertação” (EN, 29). Ainda há tempo, para cuidarmos da Igreja, Corpo Místico de Cristo, atuante pelo Serviço da Caridade.     

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