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O Sínodo e as Reformas Eclesiais


Por Pe. Matias Soares Pároco da Paróquia de Santo Afonso Maria de Ligório - Conj. Mirassol - Natal


A nossa Arquidiocese tem sido preparada para celebrar e viver um Sínodo arquidiocesano. Já escrevi três artigos precedentes acerca do evento. Temos que ter clareza do que queremos e o que precisamos enfrentar para que possamos dar respostas aos desafios que estão a bater às portas da Igreja Particular de Natal, na sua missão de anunciar o Reino de Deus em nossos dias. Penso que não podemos ficar nas prerrogativas canônicas. Por mais que essa construção positivista seja filha do Concílio Vaticano II, a história da Igreja pós-conciliar já avançou em muitas questões e nós precisamos rezar e estudar muito para fazermos o discernimento dos sinais dos tempos e o como somos chamados a atualizar a proclamação da Alegria do Evangelho. O Sínodo é um evento que nos leva a pensar a necessidade de trabalharmos a caminhada conjunta da Igreja e o dinamismo da missão que exige compromisso de todos, tendo em vista o bem do coletivo.


Na instrução sobre os sínodos, elaborada pela Congregação dos Bispos, é afirmado que “a finalidade do sínodo é a de prestar um auxílio ao Bispo no exercício da função que lhe é própria, de guiar a comunidade cristã. Tal finalidade determina o papel específico a ser atribuído no sínodo aos presbíteros, enquanto ‘solícitos colaboradores da ordem episcopal, seu auxílio e instrumento, chamados para servir o povo de Deus’. Mas o sínodo também oferece ao Bispo a ocasião de chamar para colaborar com ele, juntamente com os sacerdotes, alguns leigos e religiosos escolhidos, como um modo peculiar de exercício da responsabilidade de todos os fiéis na edificação do Corpo de Cristo”. A missão dos que assumirão o papel de ‘sinodais’ é apoiar, discutir, debater e aconselhar o nosso Bispo, Dom João Santos Cardoso, nos assuntos urgentes e necessários para o profícuo exercício do seu múnus pastoral em nossa Igreja particular. O caminho é importante porque o que tem a ver com todos, deve ser construído por todos. O nosso Arcebispo, consciente do seu papel enquanto Pastor próprio desta porção do povo de Deus, abre as possibilidades dialógicas para que o seu discernimento seja auxiliado pelas muitas representatividades que compõem a nossa Igreja arquidiocesana.


Nesse contexto, é de extrema relevância que pensemos o Sínodo como uma oportunidade de reformas e não de revolução. Esta última categoria entrou nalgumas narrativas teológicas e, nalguns contextos, tomou distância de elementos eclesiológicos que configuram a identidade da catolicidade. Sendo o Sínodo um instrumento de auxílio de governo do Bispo, no seu contexto e de maneira inseparável, deve ser uma expressão de comunhão hierárquica que é da própria natureza da Igreja. Sendo assim, qualquer tentativa de contrapor o Sínodo ao Bispo, em virtude de uma pretensa “representação do povo de Deus, é contrária à autêntica impostação das relações eclesiais”, é prudente ser evitada. (cf. Congregação para os Bispos. “Instrução sobre os sínodos diocesanos”, 1). Contudo, se faz necessário que tenhamos consciência dos avanços pastorais e administrativos que precisam acontecer. Assim como temos que sair de uma pastoral de conservação, precisamos também dar passos qualitativos na gestão eclesial. As nossas estruturas arquidiocesanas não podem mais ser reféns de um ‘feudalismo eclesiástico’. Nos falta ousadia, técnica e responsabilidade fiscal na administração dos bens materiais. Não podemos negligenciar a questão de que faz parte do múnus da potestade eclesiástica a missão de ‘reger’ o que pertence ao povo de Deus. Assim como outros gestores, devemos prestar contas da nossa administração.


Um Sínodo, de acordo com a Instrução, ainda “deve contribuir para configurar a fisionomia pastoral da Igreja Particular, dando continuidade à sua peculiar tradição litúrgica, espiritual e canônica. O patrimônio jurídico local e as linhas que orientaram o governo pastoral são objeto de acurado estudo do sínodo, com o fim de confirmar, atualizar ou de preencher as eventuais lacunas normativas, de verificar a consecução dos objetivos pastorais já formulados e de propor, com a ajuda da graça divina, novas orientações” (cf. Instrução sobre sínodos diocesanos, 3). Nos integremos ao processo de escuta, trabalhos, debates e organização do que estamos para celebrar, viver, testemunhar e aplicar nos próximos tempos da história da amada Arquidiocese de Natal, tendo em vista o estado permanente de missão nas nossas periferias geográficas e existenciais. Assim o seja!

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