top of page

Nosso itinerário quaresmal: conversão e fraternidade


Dom Jaime Vieira Rocha Arcebispo de Natal


Prezados/as leitores/as!


Desde a última quarta-feira, 22, quarta-feira de cinzas, a Igreja entrou no Tempo da Quaresma. Serão 40 dias de caminhada para a Páscoa. Esse itinerário é tradicionalmente delineado com as atitudes de conversão, de partilha e de profunda reflexão na oração. Esmola (ações de caridade), oração e jejum dão o sentido para nosso itinerário.


Na quarta-feira de cinzas inauguramos esse tempo sob o sinal das cinzas, lembrando não somente que somos pó e ao pó retornaremos, mas o convite de Jesus que se torna convite da Igreja: “Convertei-vos e crede no Evangelho”. É um convite à humildade, especialmente pelo dom que recebemos da parte de Deus. No primeiro domingo da Quaresma a Palavra de Deus nos apresenta, particularmente na Primeira Leitura, tirada do livro do Gênesis, como devemos entender a realidade de nossa origem do pó da terra: “O Senhor Deus formou o homem do pó da terra, soprou-lhes nas narinas o sopro da vida e o homem tornou-se um ser vivente” (Gn 2,7). Já entendemos que a nossa vida não é apenas pó, mas ser vivente, habitado pelo Espírito do Senhor, o sopro de vida.


O itinerário quaresmal se apresenta como caminho de conversão, pois a realidade do pecado está presente. Tanto a Primeira Leitura falará disso, como também a Segunda, tirada da carta aos Romanos, do Apóstolo São Paulo. Mas, quando falamos do pecado sempre devemos olhar como se expressa o mesmo São Paulo. Existe o pecado, mas “de modo bem mais superior” devemos olhar a graça de Deus que Cristo nos trouxe. Aliás, essa graça é a mesma na qual o homem e a mulher foram criados. Comentando o relato da criação de Gn 2,4b-25, considerado o mais antigo, em relação a Gn 1,1–2,4a, que é posterior, o escritor eclesiástico do segundo século, Tertuliano, afirmava: “De qualquer forma no que era expresso no barro, era pensado Cristo, o homem futuro, aquele que se encarnaria” (Quodcumque limus exprimebatur, Christus cogitabatur homo futurus – De carnis resurrectione, 6. Esse texto foi citado na Constituição pastoral Gaudium et spes, n. 22). Também a vida do homem e da mulher é participação na vida ressurreta de Cristo, o Homem novo. E dele vem a justiça, não aquela pela qual Deus é justo, mas a que nos justifica, isto é, nos perdoa e nos salva, a sua misericórdia.


Mas, o itinerário quaresmal é um itinerário vocacional. Neste que é o terceiro Ano Vocacional somos chamados a entender o nosso caminho como experiência de encontro com a Palavra, alimento para nossa vida, como dádiva divina que, por benevolência nos acompanha com sua Providência e nos convida ao verdadeiro culto de adoração. Esses elementos de nossa caminhada são os homens que Jesus, depois do batismo de João, usou para vencer as tentações no deserto. E esses elementos devem ser usados por nós também para que vençamos a tentação de uma fé desencarnada, de uma vida idolátrica e de um culto supersticioso. A Quaresma purifica nossa fé, dá sentido à nossa vida e nos envolve no culto verdadeiro onde, adorando o Senhor, estamos atentos a servi-lo nos nossos irmãos e irmãs.


A partir do exemplo de Jesus e de sua convicção de uma relação com Deus, sem idolatria, sem superstição e sem apatia, vivemos a Quaresma numa grande experiência de fraternidade. Daí porque, especialmente no Brasil, a Quaresma é acompanhada da Campanha da Fraternidade. Não há melhor entendimento do que a vivência da conversão como vivência da fraternidade. A Campanha da Fraternidade tem “o intuito de animar o povo fiel nesse itinerário ao encontro do Senhor” (Papa Francisco. Mensagem aos fiéis brasileiros por ocasião da Campanha da Fraternidade 2023. Vaticano, 21 de dezembro de 2022).

Comments


bottom of page