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Mestre, hoje, onde devemos lançar as redes?


Por Pe. Rodrigo Paiva

Do clero da Arquidiocese de Natal, atualmente mestrando em Teologia Fundamental, em Roma


Dentro do movimento divino de relacionar-se com a criatura humana, Deus sempre fez uso do “chamado”. Método que serviu, como até hoje nos serve, como relacionamento entre o Criador e a criatura, bem como é meio de reconhecimento pessoal e ciência de si, como no diálogo entre Deus e Adão: “Mas o Senhor Deus chamou o homem e perguntou-lhe: ‘Onde estás?’” (Gn 3,9). “Chamado” que faz do homem e da mulher dignos de sua originalidade (cf. Gn 1,26-30;2,7.23-24) e instrumentos para a realização do plano divino de amor (cf. Jr 1,7-8; Is 6,8; Lc 1,38;6,12-16).


Precisamente, com a consolidação da Igreja, enquanto família de irmãos e comunidade de fé, bem como com a necessidade de levar a mensagem revelada aos povos, Jesus chama, prepara e envia seus discípulos, dizendo-lhes: “Ide pelo mundo inteiro e proclamai o Evangelho a toda criatura!” (Mt 16,15). Neste chamado, podemos sintetizar todo o “trabalho vocacional” realizado antes, durante e depois, da parte de Pai, por meio de Jesus, no Espírito Santo aos homens e mulheres. Como instrumentos, somos chamados, preparados e enviados para o mundo a fim de que conhecendo Jesus e a proposta do Reino de Deus, todos tenham vidas e tenham em plenitude (cf. Jo 10,10).


Contudo, ao longo de sua história, a Igreja – Sacramento de Cristo – por meio de seus instrumentos (Santos, pastores, testemunhas…), continua “chamando” novos servos e servas para a vinha do Senhor. E, assim, o gênero humano, a família, a comunidade cristã, a Igreja, a vida ministerial ordenada, a vida religiosa, as novas comunidades e o batismo vivido na ação dos leigos e leigas são mantidos e abençoados com a abundância de frutos (cf. Amoris Laetitia 291-300), como a semente que cai em “terra boa (…), produz fruto: cem por um, sessenta por um, trinta por um.” (Mt 13,23).


Para tal, muito já foi feito e ainda há muito a fazer porque “grande é a messe, mas poucos são os operários” (Lc 10,2a). E com essa consciência da grandeza do trabalho que ainda temos e da insuficiente do contingente é que a Igreja não cessa de suplicar “ao Senhor da messe que mande operários para a sua messe” (Lc 10,2b).


Todavia, a questão é: o trabalho vocacional da Igreja deve permanecer somente no expediente espiritual? Os métodos de trabalho já empreendidos, sobretudo com o processo de promoção vocacional pós-conciliar, são suficientes para falar ao nosso hoje? O mandato apostólico” se faz com o que estamos oferecendo hoje? Servem as mesmas barcas, os mesmos pergaminhos, o mesmo areópago, a mesma linguagem, o mesmo número e qualidade de missionários? Partindo de cada estado de vida e nível de compreensão vocacional, o conteúdo do chamado, com nossos instrumentos e nossa disponibilidade, atinge quem deve atingir? Em qual praia a pastoral vocacional deve propor uma nova pescaria? Os “pastores de almas” devem ir a qual banca de impostos chamar os “novos errados”? Onde estamos nós no processo de chamar o mundo a consciência de Deus e com isso a compreensão de si mesmo?


“A Igreja não pode sentir-se satisfeita nunca!” (Santo Oscar Romeno). É justamente porque somos seres contingentes e nossas instituições são insuficientes que mesmo a Igreja sendo obra do Espírito Santo, mas feita de homens e mulheres, deve lançar para longe o espírito de comodismo e satisfação institucional. Devemos refletir e concretizar projetos que “atualizem” nossos métodos. Sair do “sempre foi assim”; “se quiserem venham!”; “não vamos mudar nada para agradar”; “nosso fundador disse que tinha que ser assim”. Precisamos voltar às origens e ali beber da coragem dos mártires, na medida em que nosso testemunho tem nível suficiente para atrair a Cristo (cf. Jo 12,32).


Felizmente, desde 20 de novembro do ano passado, a Igreja no Brasil está celebrando a terceira edição do Ano Vocacional. Como afirma a apresentação dele: “a iniciativa comemora os 40 anos do primeiro ano temático dedicado à reflexão, oração e promoção das vocações no país.” (site cnbb.org). Além disso, o ano em questão tem como tema: “Vocação: graça e missão”e fundamentação bíblica: Corações ardentes, pés a caminho” (cf. Lc 24,32-33). Assumindo, ainda, como importante inspiração o Documento Final do Sínodo dos Bispos sobre “Os jovens, a fé e o discernimento vocacional” realizado em 2018.


Oxalá, que possamos, ao fim deste 3º Ano Vocacional, visualizar efeitos benéficos práticos e possíveis. Consigamos responder, ao menos em parte, as respostas que urgem do nosso hoje. Que obtenhamos mais sensibilidade para perceber os “sinais dos tempos” e capacidade de dialogar com o “homem vocacional” e com a “mulher vocacional”, isto é, com “o outro” que é também: pessoa, história, singularidade, concretude e contexto.



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