Dom Jaime Vieira Rocha Administrador apostólico da Arquidiocese de Natal
Prezados/as leitores/as!
Mártires da fé, filhos do Rio Grande, homens e mulheres, jovens e meninos, pelo bom Pastor deram o seu sangue, nossa Igreja em festa canta os seus hinos!
“Sangue de mártires, semente de cristãos”, assim exclamava Tertuliano, filósofo e teólogo, escritor eclesiástico do 2º século. Os mártires são sementes que manifestam que o poder da fé multiplica os testemunhos de Cristo. Sua trajetória infunde coragem, sua confiança ilimitada no Cordeiro imolado faz desfilar diante de nós o sentido verdadeiro da liberdade: é livre quem se determina a acolher o fim, o propósito para o qual foi criado. A vivência da fé cristã ensina isso: somos verdadeiramente livres quando nos determinamos ao seguimento de Cristo. Nós somos seus amigos, e por isso, Ele nunca abandona, pelo contrário, dá sentido a tudo o que nos envolve, incluído o sentido da morte que se torna preciosa aos seus olhos, como afirma o Salmo 115. E ainda mais, tal sentido alcança seu ápice na morte do Salvador, Jesus Cristo. Ele é o grão de trigo, que morre para dar-nos a vida. E todos os que nele morrem, encontram a vida. É nessa vida, união com Ele que estaremos como afirmou: “onde eu estou estará também o meu servo”.
Os mártires ensinam também a perceber que a vida de fé é realidade concreta, encravada tanto na carne como no chão da história. Foi assim desde os tempos apostólicos. E até mesmo no Antigo Testamento vemos isso de forma bem alicerçada. A perseverança na fé não nos coloca fora do mundo, embora sustente que não somos do mundo, como disse Jesus. A dor do sofrimento dos mártires é a dor de tantos homens e mulheres que sofrem por causa dos seus ideais. Quando os ideais são justos, honestos e benfazejos, então podemos reconhecer: os mártires e todos os que sofrem por causa da justiça, como afirma Jesus nas Bem-aventuranças, não são inimigos da Nação, pelo contrário, manifestam amor e honram a Pátria.
Nosso solo potiguar foi banhado pelo sangue dos Santos Protomártires, canonizados em 2017 pelo Papa Francisco. No ano de 1645, em Cunhaú, em 16 de julho, como também em Uruaçu, em 3 de outubro, dois presbíteros e 28 leigos, além de outros, chegando a uma centena de homens e mulheres, tiveram a vida ceifada pelo ódio ao modo simples de viver a fé nas localidades mencionadas. No próximo domingo lembramos, de modo especial, os mártires de Cunhaú: Santo André de Soveral, presbítero e São Domingos Carvalho, leigo. Eles, unidos aos outros que foram mortos em Uruaçu, em 3 de outubro, são um autêntico “valoroso Lucideno” e trazem o “triunfo da Liberdade”. Assim se expressou o Frei Manuel Calado do Salvador, na sua obra sobre as chacinas do Rio Grande, publicada em 1648: “O valoroso Lucideno e o Triunfo da Liberdade”.
O martírio de Cunhaú é o triunfo da liberdade. Nós todos necessitamos da liberdade. Ela é um dom precioso. É bem verdade que a liberdade não se divorcia da responsabilidade, antes, viver na liberdade é agir com responsabilidade. Ser livre, não somente é dom de Deus para nós, mas também é resposta ao amor de Deus. Por isso, ser livre e ser responsável não se excluem, pelo contrário, estão intimamente ligados, conexos, conectados, para usar uma palavra de hoje.
Que os nossos mártires nos ensinem a viver nessa liberdade que nos habilita a agir de modo responsável, especialmente, buscando o bem dos nossos irmãos e irmãs, unindo a fé e a caridade, como afirmamos na oração aos nossos santos: “Concedei-nos, por intercessão dos nossos Santos Mártires André de Soveral, Ambrósio Francisco Ferro, presbíteros, Mateus Moreira e os seus 27 companheiros leigos, a mesma fé e a mesma caridade que inflamava os seus corações”. Amém.