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Escutar com o ouvido do coração

Dom Jaime Vieira Rocha Arcebispo de Natal



Prezados leitores/as!

Faltando duas semanas para o fim do Tempo Pascal, neste domingo, dia 29, Solenidade da Ascensão do Senhor, a Igreja celebra o 56º Dia Mundial das Comunicações. Essa iniciativa, proposta pelo Concílio Vaticano II (cf. CONCÍLIO VAITCANO II. Decreto sobre os meios de comunicação social, Inter mirifica, n. 18), celebrado a primeira vez em 1967, pelo Papa São Paulo VI que na ocasião publicou uma mensagem, dirigida aos fiéis católicos, onde afirmava que “a Igreja quer chamar a atenção dos seus filhos e de todos os homens de boa vontade para o vasto e complexo fenômeno dos modernos meios de comunicação social, como a imprensa, o cinema, o rádio e a televisão, que são uma das notas mais caraterísticas da civilização moderna” (PAULO VI. Mensagem para o I Dia Mundial das Comunicações Sociais, 7 de maio de 1967). E hoje, o boom das redes sociais, proporciona uma rapidez na comunicação que, ao mesmo tempo sendo instrumento valioso para a solução de problemas, enfrentamento de desafios, também coloca vários questionamentos, especialmente no que diz respeito ao uso por parte dos fiéis católicos.

De 1967 até hoje, os Papas sempre enviaram uma mensagem para esse dia. Mas, antes disso, o Papa Pio XII, na Carta Encíclica Miranda prorsus, de 1957, afirmava: “Os maravilhosos progressos técnicos, de que se gloriam os nossos tempos, sem dúvida são fruto do engenho e do trabalho humano, mas são primeiro que tudo dons de Deus, Criador do homem e inspirador de todas as obras”. Nesse reconhecimento, as mensagens pontifícias para esse dia, celebrado sempre na Solenidade da Ascensão do Senhor, frisaram sobretudo a necessidade de que os meios de comunicação fossem usados para a propagação do Evangelho e para instaurar uma comunhão fraterna que dê testemunho de pertença a Cristo, “o comunicador do Pai”.

Para o 56º Dia Mundial das Comunicações Sociais, o Papa Francisco, na sua mensagem, que tem como tema: “Escutar com o ouvido do coração”, recordando que o verbo “escutar” “é decisivo na gramática da comunicação e condição para um autêntico diálogo”. Em primeiro lugar, tal diálogo é uma prerrogativa divina, pois no início da história da relação de Deus com o povo eleito de Israel está a exortação, lembrada pelo Papa Francisco: “Shemá, Israel”, “escuta, Israel” (Dt 6,4). Escutar Deus e a sua Palavra, eis a primeira atitude de quem trabalha com os meios de comunicação social e os envolve pela dinâmica pastoral. Trata-se do estabelecimento de uma relação: Deus fala ao seu povo. E com isso, possibilita que o povo fale com Ele: “A escuta corresponde ao estilo humilde de Deus. Ela permite a Deus revelar-Se como Aquele que, falando, cria o homem à sua imagem e, ouvindo-o, reconhece-o como seu interlocutor. Deus ama o homem: por isso lhe dirige a Palavra, por isso ‘inclina o ouvido’ para o escutar”.

Para Papa Francisco a “escuta” é condição para boa comunicação. E adverte aqueles que usam o ouvido para o contrário disso, que é “espionar”, ou aqueles que não se prestam a ouvir e sim “falar pelos cotovelos”, preocupados mais com a audiência do que com a escuta. Por isso, exorta Francisco que é necessário “escutar-se na Igreja. É um grande dom, “é o dom mais precioso e profícuo que podemos oferecer uns aos outros”.

Significativo na mensagem de Francisco é a citação de um grande teólogo luterano alemão, enforcado a mando de Hitler, em 9 de abril de 1945: “Devemos escutar através do ouvido de Deus, se queremos poder falar através da sua Palavra”. Para o teólogo mártir o primeiro serviço na comunhão que devemos aos outros é prestar-lhes ouvidos. “Quem não sabe escutar o irmão, bem depressa deixará de ser capaz de escutar o próprio Deus”.

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