Dom João Santos Cardoso
Arcebispo de Natal
O “Documento Final da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos” trouxe reflexões significativas sobre a sinodalidade e seus desdobramentos na cultura digital. Os parágrafos 113 a 115 do referido Documento abordam diretamente os impactos da cultura digital na vida da Igreja e na proclamação do Evangelho.
Conforme o “Documento Final”, a cultura digital não é apenas uma ferramenta de comunicação, mas um ambiente no qual relações humanas, valores e práticas sociais estão sendo constantemente remodelados. A Internet redefine a forma como nos conectamos, provocando em nós, ao mesmo tempo, uma sensação de proximidade e, paradoxalmente, solidão e exclusão. Nesse contexto, a Igreja é chamada a compreender essa nova realidade e a responder de maneira pastoral e missionária.
Entre os desafios da cultura digital destacam-se: a) isolamento e exclusão digital: apesar da ampla conectividade proporcionada pelas tecnologias digitais, muitos ainda enfrentam formas de exclusão social e digital, agravando desigualdades já existentes; b) distorção de valores: a predominância de determinadas informações e narrativas nas plataformas digitais pode reforçar divisões sociais, preconceitos, disseminar desinformação e discurso de ódio, além de acirrar polarizações; c) superficialidade relacional: relações mediadas digitalmente embora conectem as pessoas, frequentemente carecem da profundidade e da autenticidade necessárias para o aperfeiçoamento moral e a construção de laços humanos e espirituais significativos.
Entretanto, jamais podemos esquecer que a cultura digital também apresenta oportunidades valiosas, tais como: a) conexão global: a possibilidade de criar redes de solidariedade e comunhão que superam barreiras geográficas e culturais, fortalecendo vínculos entre diferentes comunidades; b) ampliação da missão: o ambiente digital apresenta-se como um novo espaço para a evangelização, onde o Evangelho pode ser proclamado de maneira criativa, acessível e envolvente; c) diálogo e inclusão: o ambiente digital pode permitir acolher uma diversidade de vozes, promovendo um testemunho concreto de unidade na diversidade e uma maior abertura ao encontro com o outro.
O Sínodo reconhece que as comunidades digitais podem ser espaços de encontro, pertencimento e partilha de fé. Essas comunidades, quando estruturadas segundo valores cristãos, têm o potencial de se tornarem verdadeiros lares espirituais, promovendo a integração de pessoas muitas vezes marginalizadas. Por isso, a Igreja, como "lar acolhedor", é chamada a transformar a rede digital em um lugar de comunhão sacramental e missionária, onde as relações humanas sejam reconfiguradas à luz do Evangelho.
O modelo sinodal da Igreja, que enfatiza a comunhão, participação e missão, encontra um terreno fértil nas redes digitais. A sinodalidade pode se expressar por meio de fóruns, grupos de discussão e plataformas de colaboração que incentivam a corresponsabilidade e a partilha de dons entre os fiéis. Na "teia de relações" proporcionada pela cultura digital, a Igreja é convidada a articular sua sacramentalidade, tornando-se um testemunho visível de unidade e fraternidade no ambiente digital.
A XVI Assembleia Sinodal convida a Igreja a discernir como viver sua missão no novo "continente digital", transformando os desafios da cultura digital em oportunidades de evangelização. Esse compromisso profético requer coragem, criatividade e fidelidade ao Evangelho. A sinodalidade deve ser mais do que um caminho de renovação espiritual e pastoral; ela também pode ser uma resposta concreta aos desafios da cultura digital. Dessa forma, a Igreja é chamada a ser um sinal visível de esperança e inclusão no mundo conectado, irradiando o amor de Cristo de maneira consistente e eficaz por todos os meios disponíveis.