Diác. José Bezerra de Araújo
Assistente eclesiástico da Pastoral da Comunicação
Quem vê e ouve noticiários ou lê notícias em jornais, sites, revistas e outras mídias eletrônicas de informação, se depara, a cada dia, com situações tão violentas que assustam muitas pessoas. Pior, ainda, é perceber que muitas dessas ações são praticadas por policiais, pessoas que deveriam preservar a sociedade dessa violência. Só para servir de referência, ultimamente foram mostradas nos noticiários três situações. Numa delas um policial joga um homem de cima de uma ponte, sem qualquer confronto, discussão ou luta; outra, numa situação de abordagem, o policial chuta a cabeça do cidadão quando o homem já estava subjugado e no chão; e uma terceira, ainda mais absurda, um sargento aposentado atira contra um grupo de crianças que pediam para ele ligar a sinaleira do veículo em que estava. São cenas bizarras, de tão desumanas.
Do ponto de vista filosófico, “ser humano” significa “um ser vivo racional, capaz de distinguir coisas e elaborar conceitos”. Diante dessa definição e do confronto com as situações citadas no parágrafo anterior, é justo questionar: o que está acontecendo com as criaturas humanas dos tempos atuais, tão desprovidas de sensibilidade? Por que o ser humano, definido como uma criatura racional, age como um animal irracional? Será que a criatura humana está paulatinamente perdendo a racionalidade?
Os questionamentos têm fundamento diante do significado ou definição do que seja senso humano: “qualidade do sensato; cautela, circunspecção; prudência; qualidade de julgar, de entender, de sentir; entendimento, juízo, percepção, sentido”. Afinal, a criatura humana é caracterizada como um ser racional, capaz de ser uma unidade e uma totalidade ao mesmo tempo, enquanto matéria, e que consegue, através da racionalidade, distinguir coisas e elaborar conceitos(pt.wikipedia.org/wiki/Senso comum).
Na música “Trindade Santa”, interpretada pelo Padre José Fernandes de Oliveira, o Pe. Zezinho, uma das estrofes, descreve o Filho de Deus Pai, Jesus, que é enviado pelo Pai à terra, e descreve a razão desse envio: “Um Filho santo, mil vezes santo/ Eternamente estava nesse pai/ Sendo gerado e muito amado/ Mas um certo dia o Pai lhe disse: Vai!/ Vai lá pra terra, vai libertá-la/ Porque o ser humano se animalizou/ Perdeu o rumo, não acerta o prumo/ Está mais violento e se desconjuntou/ (música TRINDADE SANTA, Pe. Zezinho).
Diante das cenas bizarras que se vê nas mídias sociais e noticiários cotidianamente, este ser humano parece ter, realmente, perdido o seu verdadeiro senso de humanidade. O outro ser humano, para algumas pessoas, são como que se não fossem, ou seja, são equiparadas a “coisas” que podem ser descartadas ou um “lixo” que pode ser “jogado” fora. Mas a legislação internacional e do País preservam a criatura humana e define seus direitos e deveres. A criatura humana não é “uma coisa descartável” nem lixo.
Na Declaração Universal dos Direitos Humanos, consta que: Artigo 3°) Todo indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal. Artigo 4°) Ninguém será mantido em escravatura ou em servidão; a escravatura e o trato dos escravos, sob todas as formas, são proibidos. Artigo 5°) Ninguém será submetido a tortura nem a penas ou tratamentos cruéis, desumanos ou degradantes; Artigo 6°) Todos os indivíduos têm direito ao reconhecimento, em todos os lugares, da sua personalidade jurídica.
O fato de ser um agente da lei não gera direito de infringir a lei. Antes, tem que cumpri-la em toda a sua plenitude. Infringi-la é crime. Não se combate crime cometendo crime. Não se humaniza alguém tratando-o como animal. O ser humano precisa se reumanizar.