Diác. Paulo Felizola
Paróquia de Nossa Senhora do Ó - Nísia Floresta
Já vimos, em reflexão anterior, que a solução para a crise ambiental não pode advir de respostas parciais, imediatistas, como a que nos oferece a proposta tecnológica motivadora do Pacto pela Transformação Ecológica, firmado pelos poderes da República, e outras mais incapazes de se libertarem dos interesses capitalista, porém, de uma nova cultura ecológica de um novo ideal de vida, de uma vida mais simples e em harmonia com a natureza, com um nível mais baixo de consumo de mercadorias.
No entanto, é preciso não esquecermos a existência de uma proposta de solução ao problema ambiental, que faz do aumento do consumo o critério fundamental, negando todas as evidências científicas sobre os problemas ecológicos, ao mesmo tempo em que, também, nega a possibilidade de universalização do padrão de consumo, meta do mito do desenvolvimento, através da negação dos direitos humanos de todas as pessoas, na medida em que uma vida digna e a realização do desejo de consumo, seria apenas para os que possam pagar por isso, não para todos, porque nem todos têm esse direito, uma vez que não há direito natural que garanta isso para todos. Ou seja, existe, assim, o direito de comer, de estudar, de trabalhar, mas não se contempla o direito ao alimento, ao lugar de trabalho, ao estudo, razão pela qual, em relação à comunidade, a pessoa tem o direito de não ser impedida, mas não tem o direito de ser sustentada. – Toda ajuda ao mais fraco não é exigível pelo mais fraco como direito, mas só possível de ser implorada como esmola. A vida boa é um privilégio ou direito de minorias. Essa é a proposta neoliberal, para quem o mercado divinizado é o ser supremo, os interesses individuais são mais importantes que os interesses coletivos e que o problema ambiental é consequência da lógica do mercado, logo a correspondente a solução, também, depende da mão invisível.
Salta aos olhos, assim, a abrangência e a relevância da proposta de solução do Papa Francisco para a crise ambiental, à medida que reconhece e trata a crise como integral, pois não se trata apenas de uma crise da natureza, mas de toda a criação. A crise é, ao mesmo tempo, ambiental, antropológica, econômica, social e política. Portanto a solução requer, primeiramente, reconhecermos que “aquilo que está em crise é a nossa forma de compreender a realidade e de nos relacionarmos entre nós” (Papa Francisco. Mensagem em vídeo sobre o Pacto Educativo Global em15-10-2020).
Foi com esse pensamento estratégico e convencido do poder transformador da educação, que o Papa Francisco convocou a todas as pessoas no mundo, instituições, igrejas e governos a priorizem uma educação humanista e solidária como modo de transformar a sociedade pois “educar é apostar e infundir no presente a esperança que rompe os determinismos e fatalismos com que muitas vezes o egoísmo do forte, o conformismo do vulnerável e a ideologia do utopista se querem impor como único caminho possível.
Educar é sempre um ato de esperança que convida à comparticipação transformando a lógica estéril e paralisadora da indiferença numa lógica diferente, capaz de acolher a nossa pertença comum. Se hoje deixássemos os espaços educativos continuarem a reger-se pela lógica da substituição e repetição, incapazes de gerar e mostrar novos horizontes, onde a hospitalidade, a solidariedade intergeracional e o valor da transcendência fundamentem uma nova cultura, não estaríamos porventura a falhar o encontro com a História?”
Temos consciência também de que um caminho de vida necessita da esperança fundada na solidariedade e que toda a mudança requer um percurso educativo para construir novos paradigmas capazes de responder aos desafios e emergências do mundo atual, de compreender e encontrar as soluções para as exigências de cada geração e de fazer florir a humanidade de hoje e de amanhã.
Pensamos que a educação seja um dos caminhos mais eficazes para humanizar o mundo e a história. A educação é sobretudo uma questão de amor e responsabilidade que se transmite, ao longo do tempo, de geração em geração.
Por conseguinte, a educação apresenta-se como o antídoto natural à cultura individualista, que às vezes degenera num verdadeiro culto do «ego» e no primado da indiferença. O nosso futuro não pode ser a divisão, o empobrecimento das faculdades de pensamento e imaginação, de escuta, diálogo e compreensão mútua. O nosso futuro não pode ser este!” (Papa Francisco. Mensagem em vídeo sobre o Pacto Educativo Global em15-10-2020).
Será assim, buscando a formação das novas gerações, que a Igreja, em alinhamento com sua doutrina social, lutará por um mundo que viva uma nova cultura ecológica em um novo ideal de vida, que valorize a solidariedade, a justiça e todos possam viver dignamente, pois “é necessário construir uma «aldeia da educação», onde, na diversidade, se partilhe o compromisso de gerar uma rede de relações humanas e abertas”. (Papa Francisco. Mensagem para o lançamento do Pacto Educativo Global)
REFERÊNCIA
Pacto Educativo Global. Vademecum. Disponível em https://anec.org.br/acao/pacto-educativo-global.
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