Diác. José Bezerra de Araújo Assistente eclesiástico da Pascom
Arquidiocese de Natal
Muitas criaturas humanas, ao entrarem em sua casa e perceber o ambiente sujo e desorganizado, cuidam logo de limpar, colocar os móveis e utensílios nos devidos lugares e deixar o ambiente aprazível. Isso é próprio da natureza humana da maioria das pessoas. Porém, infelizmente, muitas outras não têm o mesmo comportamento, nem em sua própria casa, nem noutros ambientes que frequenta. São os assim chamados “desleixados”, os sem hábitos saudáveis para com si próprios e os ambientes pelos quais transitam.
Mas, acredite, há também os que cuidam com esmero do lar em que habitam, mas cometem verdadeira barbárie nos ambientes naturais, poluindo praças, rios, lagoas, mar e matas com detritos plásticos e outros poluentes, causando danos – às vezes irreversíveis – à natureza. São elas as responsáveis por criar as condições de desequilíbrio ambiental. E esse desequilíbrio cobra um preço alto a todos os seres humanos, inclusive você.
“Quando falamos de meio ambiente, fazemos referência também a uma particular relação: a relação entre a natureza e a sociedade que a habita. Isto impede-nos de considerar a natureza como algo separado de nós ou como uma mera moldura da nossa vida. Estamos incluídos nela, somos parte dela e compenetramo-nos”, afirma o Papa Francisco, em sua Carta Encíclica Laudato Si (nº 139).
E Francisco não se baseia apenas em teoria, mas em fatos concretos. No mesmo número da Encíclica ele afirma, também, que “As razões, pelas quais um lugar se contamina, exigem uma análise do funcionamento da sociedade, da sua economia, do seu comportamento, das suas maneiras de entender a realidade”. Ele constata que em virtude da “amplitude das mudanças, já não é possível encontrar uma resposta específica e independente para cada parte do problema. É fundamental buscar soluções integrais que considerem as interações dos sistemas naturais entre si e com os sistemas sociais”(cf. LS, 139).
A imagem que vem à mente quando se lê este documento do Papa Francisco é a do Brasil de hoje e já de há muitos anos. A destruição do meio ambiente na busca de riquezas, como o ouro, a prata, o níquel no subsolo brasileiro; o desmatamento de inúmeros quilômetros quadrados para prover a ganância de um agronegócio irresponsável; e, pasmem, até o ato criminoso de atear fogo em ambientes de preservação da natureza, nos quais habitam animais raros, são práticas do cotidiano brasileiro. Nestes últimos dias ouviu-se na imprensa informações de pessoas presas por terem recebido dinheiro para “tocar fogo no Brasil”.
Atualmente, o Brasil vive a campanha eleitoral para eleger prefeitos e vereadores. Eles serão os futuros gestores do município em que você e cada brasileiro reside. É uma “célula” menor da gestão pública do solo e do ambiente do território nacional. Gestão esta que você está delegando ao futuro prefeito e aos que irão legislar para o bem estar da cidade e do território em que você habita – a sua casa comum. Você, eleitor, será responsável, direta e indiretamente, pela gestão desta célula da administração pública chamado “Município”. É nele que você vive. Ao eleger seus representantes, você também será responsável pela administração da cidade e da área rural do município no qual você habita.
O Papa lembra que para os aborígenes “a terra não é apenas um bem econômico, mas dom gratuito de Deus e dos antepassados que nela descansam (...). Eles, quando permanecem nos seus territórios, são quem melhor cuida deles”(cf. LS, 146). E você, vai entregar a gestão do seu território (a cidade e o município) a quem cuidará bem, ou a qualquer um, em troca de algo? Não se deixe levar pelas promessas mirabolantes de candidatos ou pelos bens imediatos que possam vir de um voto seu... Quem lhe oferece vantagem pelo seu voto não tem compromisso com você... Pense nisso!