top of page

ARTIGO - Não se autodestrua


Diác. José Bezerra de Araújo Assistente eclesiástico da Pascom, na Arquidiocese de Natal


“... E a vida, e a vida o que é? Diga lá, meu irmão...” Esses primeiros versos da música de Gonzaginha inspiram a leitura do documento do Sínodo dos Bispos - a Assembleia Especial para a Região Pan-Amazônica” - em 2017, “Amazônia: novos caminhos para a Igreja e para uma ecologia especial”, gerando o documento Instrumentum Laboris. Você deve estar se perguntando o que tem a ver aquele início da música de Gonzaginha com este documento. É que ela, a música, fala, em forma de um questionamento, da mensagem de Jesus Cristo, escrita pelo evangelista João: “Eu vim para que todos tenha vida e a tenham em abundância” (Jo 10,10).


Por isso, tem tudo a ver. A música de Gonzaguinha continua atualíssima, assim como o Evangelho já citado e o conteúdo do documento que os bispos produziram para Sínodo Especial para a Amazônia, convocado pelo Papa Francisco há sete anos. O instrumento, ainda atualíssimo, compõe-se de três partes: “o ver-escutar: A voz da Amazônia”; “Ecologia integral: o clamor da terra e dos pobres”; e “Igreja profética na Amazônia: desafios e esperanças”.


Logo no início, o Instrumentum Laboris afirma que “a vida na Amazônia se identifica, entre outras coisas, com a água. O rio Amazonas é como uma artéria do continente e do mundo, flui como veias da floresta e fauna do território, como manancial de seus povos, de sua cultura e de suas expressões culturais. Como o Eden (Gn 2,6), a água é nascente de vida, mas também ligação entre suas diferentes manifestações de vida, na qual tudo está interligado”, diz o primeiro capítulo do documento.


Passados sete anos da convocação do Sínodo, o que se vê no território brasileiro, nos biomas Amazônia, Pantanal, Pampa, Cerrado, Mata Atlântica e Caatinga? Devastação! E neste ano de 2024 o território brasileiro ardeu em chamas, com as queimadas em praticamente todos esses biomas, que são fontes de vida para todas as espécies do Planeta. Para se ter uma ideia da importância da preservação dos biomas em relação à “produção” de água, “o Rio Amazonas lança sozinho no oceano Atlântico, todos os anos, 15% do total de água doce do planeta” (Instrumentum Laboris, 9). E teve gente que apoiava a ideia estapafúrdia de “passar a boiada” (em outras palavras, destruir biomas), no governo anterior, para favorecer o agronegócio.


Mas essa gente inescrupulosa e gananciosa não abandonou e nem vai abandonar o seu ideário. O que se viu neste ano foi um bando de criminosos literalmente “ateando fogo no Brasil”, aproveitando-se de um período de secas. O objetivo era e ainda é, tentar apropriar-se das terras da Nação. Em síntese, eles destruíram uma boa parte da vida do Planeta presente em território brasileiro.


Essa gente negacionista em relação à ciência e ao clima, assim como muitas outras pessoas, ignoram que “Geologicamente, o território amazônico contém uma das biosferas mais ricas e complexas do Planeta. A superabundância natural de água, calor e umidade faz com que os ecossistemas da Amazônia abriguem cerca de 10% a 15% da biodiversidade terrestre, armazenando todos os anos de 150 a 200 bilhões de toneladas de carbono”(Inst. Laboris, 10).


Entendeu o porquê e a importância do questionamento feito nos versos da música de Gonzaguinha? É a vida, ele fala e questiona o que há de mais importante para você e todos os seres vivos. O questionamento ele faz a toda e qualquer pessoa, principalmente às “desligadas” da vida como um todo, da visão global, incluindo pessoas, animais, vegetais, terra... É tudo um sistema e você, assim com qualquer pessoa, ou outro ser vivo, faz parte desse ecossistema e nele vive. Danificar o ecossistema em que você e todos os demais seres vivem é um ato insano de autodestruição. É como se você estivesse dentro de sua casa e ateasse fogo para destruí-la. Entendeu? Então, o que é a vida pra você, meu irmão?

bottom of page