Por Pe. Matias Soares Pároco da Paróquia de Santo Afonso Maria de Ligório - Conj. Mirassol - Natal
A nossa paróquia de Santo Afonso já tem bem estruturado e organizado o seu plano missionário pastoral. Na composição dos seus seis setores pastorais, temos: 1) – O bíblico catequético; 2) – O litúrgico; 3) – O administrativo; 4) – A promoção humana e justiça social; 5) – Os movimentos; e 6) – A família e juventude. Essa organização é fruto do discernimento pós-pandemia que fizemos para que a fusão dos canais de evangelização afins permitisse a interpastoralidade e a consecução duma ‘ecologia pastoral’. O intento é construir processualmente uma ecologia pastoral, ou seja, uma organização que considere a conexão de todos os sujeitos eclesiais que estão agindo nos variados setores da ação evangelizadora, que dialogam internamente e que saem a anunciar a ‘alegria do evangelho’ em todas as fronteiras da sociedade. Como célula da Igreja particular – a Arquidiocese – a sintonia com o projeto pastoral é imprescindível. Desta forma, leva-se à concretização da Diocesaneidade. Essa atenção à importância da Igreja local é a base ‘eclesiologia pastoral’ do Vaticano II. A paroquialidade não pode olvidar essa prerrogativa para tornar-se uma bolha.
O Papa Francisco, nas trilhas do magistério precedente, especialmente da V Conferência de Aparecida, afirma que:
“A paróquia não é uma estrutura caduca; precisamente porque possui uma grande plasticidade, pode assumir formas muito diferentes que requerem a docilidade e a criatividade missionária do Pastor e da comunidade. Embora não seja certamente a única instituição evangelizadora, se for capaz de se reformar e adaptar constantemente, continuará a ser ‘a própria Igreja que vive no meio das casas dos seus filhos e das suas filhas’. Isto supõe que esteja realmente em contato com as famílias e com a vida do povo, e não se torne uma estrutura complicada, separada das pessoas, nem um grupo de eleitos que olham para si mesmos. A paróquia é presença eclesial no território, âmbito para a escuta da Palavra, o crescimento da vida cristã, o diálogo, o anúncio, a caridade generosa, a adoração e a celebração. Através de todas as suas atividades, a paróquia incentiva e forma os seus membros para serem agentes da evangelização. É comunidade de comunidades, santuário onde os sedentos vão beber para continuarem a caminhar, e centro de constante envio missionário” (cf. EG, 28).
Essas proposições devem ser para todos uma bússola para pensarmos a identidade, a missão e os desafios do lugar da paróquia em nossos dias. A sua conversão pastoral, no atual contexto eclesial, passa pela mudança dos seus programas e paradigmas, que precisam sem ‘missionários’. A teologia da missão tem que ser rebuscada em nossa reflexão pastoral. A insistência na pastoral de conservação é muita pesada e atávica. A própria teologia sacramental, ainda não encontrou nas bases bíblicas e dos santos padres o seu espírito. Os sacramentos não podem perder a sua dimensão ‘mistagógica’. Eles preenchem o nosso desejo da presença de Deus em nós. O humano pós-moderno anseia redescobrir esse encantamento com o mistério. Tratamos os sacramentos como coisas. Estas podem ser vendidas, dispensadas e usadas de acordo com a conveniência. Em vários contextos, principalmente nos urbanizados, a própria paróquia tem sido ‘prestadoras de serviços’. Muitos católicos a procuram em momentos de celebrações sazonais. O pior: alguns dos ministros ordenados utilizam também essa lacuna existencial e eclesial para obter vantagens pecuniárias, fomentar status e alimentar ‘mundanismo espiritual’.
Na hermenêutica e recepção do ensinamento de Francisco, em assembleia paroquial, assumimos o propósito de viver permanentemente três atitudes, que darão ânimo e dinamismo a todos os sujeitos eclesiais, pastorais, movimentos e serviços da nossa comunidade, a saber: 1) – A oração; 2) – A formação; e 3) – A missão. Todos os setores pastorais precisam testemunhar esse modo de vida nos seus programas e ações. Pela oração, abrimos os nossos corações ao protagonismo do Espírito Santo. O nosso agir é carismático, é serviçal e vive do discernimento espiritual. A oração é a energia da ação evangelizadora. Sem ela, os medos, as intrigas, os comportamentos imperativos geram divisão e desânimos. A formação permanente é constitutiva do amadurecimento, não só intelectivo. Tem uma relação íntima com a própria vida de oração. Com a vida contemplativa, a intelectiva nos capacita para estar no mundo, sem relativizar os nossos valores e formas de existência cristã. O humanismo integral, que perpassa toda antropologia cristã, adere à formação permanente que desenvolva as dimensões humana, espiritual, intelectual e pastoral. Com a integração destas, a consequência é a abertura ao estado permanente de missão. Por isso, aplicaremos o projeto missionário chamado “Igreja nas Casas”. Através deste, almejamos levar a termo as percepções de Aparecida, sendo presença evangélica nas famílias, e o que está proposto na Alegria do Evangelho, no número supra citado. Em síntese, a paróquia, redescobrindo a sua vocação na cultura pós-moderna, de mentalidade urbana e pós-cristã, urge que seja casa do discipulado e do testemunho missionários.
Enfim, as nossas comunidades paroquiais precisam de fisionomias que preencham o ‘vácuo pastoral’ existente em muitas delas e que, consequentemente, leva ao arrefecimento da ação evangelizadora da própria Igreja particular. A nossa Arquidiocese já iniciou um caminho sinodal. Com ele teremos a oportunidade de redescobrir o que podemos pensar sobre nós mesmos, a nossa história e o que somos evocados a ser para a sociedade, enquanto sacramento de salvação, chamados a ser luz, promover o diálogo, a amizade social e o cuidado com a nossa casa comum. Temos que avançar para novos horizontes. Celebremos a vida, a missão e a ousadia evangélica, que necessariamente nos farão mais proféticos e apaixonados pelo que somos e fazemos. As crises vividas por muitos sujeitos eclesiais, inclusive por ministros ordenados, têm a ver com essa dificuldade de entender a nossa verdadeira vocação enquanto seguidores do único Mestre e Senhor. A paróquia pode oferecer os meios a serem perseguidos para realização desse itinerário cristão e eclesial. Assim o seja!
Comments