Por Diác. Eduardo Wanderley
Paróquia de São Camilo de Léllis - Lagoa Nova - Natal
A pregação da sexta-feira da Paixão de 2021, no Vaticano, proferida pelo pregador da casa pontifícia, Cardeal frei Raniero Cantalamessa, traz um pensamento ao qual, de vez em quando, precisamos voltar: “Qual é a causa mais comum das divisões entre os católicos? É a opção política, quando ela se sobrepõe à religiosa e eclesial e desposa uma ideologia, esquecendo completamente o sentido e o dever da obediência na Igreja”.
Estamos diante de um novo processo eleitoral e, como sabemos, a política tem seus encantos apaixonantes. A política é também um dever cristão, porque somos todos nós corresponsáveis pela família humana. O Papa São João Paulo II afirma que “todos nós somos verdadeiramente responsáveis por todos” (Sollicitudo Rei Socialis, 38). Isso implica que a busca pela bem-comum está dentro do horizonte do fazer cristão. O capítulo 5 de Fratelli Tutti (FT), encíclica do Papa Francisco, é intitulado A Melhor Política. Nele o papa enobrece o valor da política, não sem apontar suas dificuldades (populismos, liberalismos etc). A boa política é digna.
Mas o fenômeno com que a Igreja se depara e que muitas vezes leva os cristãos a dizer que a Igreja não deveria se envolver na política é justamente a inversão de valores que vemos com nossos olhos. O papa Francisco resume assim: “Usa-se hoje, em muitos países, o mecanismo político de exasperar, exacerbar e polarizar. Com várias modalidades, nega-se a outros o direito de existir e pensar e, para isso, recorre-se à estratégia de ridicularizá-los, insinuar suspeitas sobre eles e reprimi-los. Não se acolhe a sua parte da verdade, os seus valores, e assim a sociedade empobrece-se e acaba reduzida à prepotência do mais forte. Desta forma, a política deixou de ser um debate saudável sobre projetos a longo prazo para o desenvolvimento de todos e o bem comum, limitando-se a receitas efêmeras de marketing cujo recurso mais eficaz está na destruição do outro. Neste mesquinho jogo de desqualificações, o debate é manipulado para o manter no estado de controvérsia e contraposição.” (FT, 15).
Também, Dom Paulo Mendes Peixoto, Arcebispo de Uberaba (MG), fala em seu artigo de 2022: “O mundo da política tem desabonado o verdadeiro sentido da palavra, porque se tornou espaço privilegiado de corrupção, de corporativismo e negação do verdadeiro objetivo, que é a defesa da vida, do Estado e da dignidade das pessoas. Um candidato católico não representa a Igreja, mas precisa praticar os ensinamentos que vêm da Palavra de Deus, sendo honesto, justo e verdadeiro.”
O fato que nos chama a atenção é que a paixão política, movida pela polarização atual, é beligerante. E isso tem contaminado cristãos mundo afora. Por isso, o Cardeal Cantalamessa nos convida a refletir se estamos colocando acima do reino de Deus o reino dos homens. A nossa opção política é fruto de uma história e de uma cultura em que estamos imersos, cada um com uma realidade distinta. Ela deve ocupar o seu devido lugar, mas nunca o lugar de Deus. O cristão leigo envolvido na política deve usar os valores cristãos para exposição de suas ideias. O cristão do outro partido não é um inimigo a ser destruído, mas um irmão que deseja um projeto diferente daquele que eu acredito. E isso não pode ser um problema para mim. Se perdemos os valores cristãos em detrimento dos valores partidários, passamos a adorar os Baals do momento no lugar de adoramos o Deus eterno.
Por fim, uma palavra de busca pelo bem comum. Seja qual for o projeto ou a ideologia que lhe impulsione a votar em algum candidato, sempre olhe o bem comum. Não se trata de olhar o seu próprio bem, mas o bem de todos. É essa visão maior que deve nos levar a um voto consciente e pacífico. Aquele que nos permite dormir em paz. E seja qual for sua escolha, antes de tudo, seja louvado o nome do Senhor! Amém!
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