Dom João Santos Cardoso
Arcebispo de Natal
A inveja é um vício capital que gera outros vícios e é altamente destrutiva, pois corrompe a alma e destrói as relações humanas. A inveja inclui várias causas, como o desejo desordenado de autoexaltação e a incapacidade de reconhecer a bondade e os dons de Deus nos outros.
Segundo o Papa Francisco, a inveja é uma tristeza pelo bem alheio que demonstra a falta de interesse do invejoso pela felicidade dos outros, uma vez que ele está centrado exclusivamente no próprio bem-estar (Amoris Laetitia, n. 95). A inveja, conforme compreende o Santo Padre, está ligada a uma falsa ideia de Deus e à recusa de aceitar a lógica divina do amor e da generosidade. As consequências da inveja são severas. Ela destrói as relações humanas, envenena o sentimento de fraternidade e pode levar ao ódio e até mesmo à violência, como ilustrado pela história de Caim e Abel (Papa Francisco, Audiência Geral, 28/02/2024). O remédio para curar a inveja é o amor e a humildade, pois, como afirma o Papa Francisco, o amor não é invejoso, mas aprecia os sucessos alheios e não os vê como uma ameaça (Amoris Laetitia, n. 95-96). O Papa também aconselha a proteger o coração contra o "verme do ciúme" através da prática da caridade e da empatia (Homilia na Casa Santa Marta, 24/01/2020).
São Tomás de Aquino compreende a inveja como um vício capital, uma tristeza pelo bem alheio, que o invejoso sente como um mal para si mesmo. Ele considera a inveja como um reflexo da desordem na busca pelo bem, onde o sucesso alheio é visto pelo invejoso como uma diminuição do seu próprio valor. A inveja gera um ciclo de negatividade e leva o invejoso a cometer outras ações contra a ordem moral para prejudicar o próximo, incluindo murmuração, detração, ódio, exultação pela desgraça alheia e aflição pela prosperidade do outro. São Tomás sugere, para combater a inveja, a prática das virtudes opostas, como a caridade e a generosidade, e nos incentiva a reconhecer a bondade de Deus em todos e a nos alegrar com o bem dos outros (De Malo).
Segundo Hugo de São Victor, a inveja segue a soberba, uma vez que aquele que ama exclusivamente o próprio bem sente-se atormentado pelo bem alheio. Ele relaciona a inveja com a segunda petição do Pai Nosso ("Venha a nós o vosso Reino"), o segundo dom do Espírito Santo (Piedade), a segunda virtude capital (Mansidão) e a segunda bem-aventurança (Posse da Terra). Para Hugo de São Victor, a inveja impede o homem de reconhecer a bondade de Deus nos outros, levando à tristeza e ao afastamento da comunidade (Os Cinco Setenários).
Através dos ensinamentos do Papa Francisco, de Tomás de Aquino e de Hugo de São Victor, compreendemos que a cura para a inveja está no amor, na humildade e na prática das virtudes opostas. A luta contra a inveja é uma batalha contínua, mas essencial para nossa saúde espiritual e a harmonia com Deus e com o outro.
Comments