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A dimensão social da evangelização


Prezados/as leitores/as!


No capítulo IV da Exortação apostólica Evangelii gaudium (A alegria do Evangelho) do Papa Francisco, intitulado “A dimensão social da evangelização”, encontramos exposta a relação que existe evangelização e promoção social. Afirma o Papa Francisco que se esta dimensão não for devidamente explicitada corre-se o risco de desfigurar o sentido autêntico e integral da missão evangelizadora (EG 176). O primeiro fator que determina esta relação está presente nas repercussões comunitárias e sociais do querigma. Este, já no seu primeiro anúncio, tem uma repercussão moral imediata, cujo centro é a caridade (EG 177).


A conexão íntima que existe entre evangelização e promoção humana tem seu fundamento na apresentação da fé cristã que reconhece o infinito amor de Deus Pai pelo homem, conferindo-lhe uma dignidade infinita. E mais, ao assumir a carne humana o Filho de Deus revela para nós que cada pessoa humana foi elevada até ao próprio coração de Deus. O amor sem limites que Deus tem por nós se manifesta ainda mais no reconhecimento de que Jesus deu o seu sangue por nós. A redenção realizada na cruz não redime só individualmente, mas afeta também as relações sociais entre os homens: tudo fica redimido. O próprio Espírito Santo procura permear toda a situação humana e todos os vínculos sociais. É o mistério santo da Trindade que impede de pensarmos que podemos realizar-nos e salvar-nos sozinhos, pois, criados à imagem da comunhão divina só nos realizamos nesta comunhão, que inclui a comunhão com os nossos semelhantes.


Este é o fundamento primeiro da relação entre evangelização e promoção humana. Aceitar este fundamento ou aceitar que o primeiro anúncio consiste nesta realidade, ou seja, a comunhão trinitária funda a comunhão entre nós, leva-nos a uma primeira e fundamental reação: desejar, procurar e ter a peito o bem dos outros (EG 178). Em primeiro ligar, o anúncio nos ensina que no irmão está o prolongamento permanente da Encarnação, para a vida de cada um de nós. Esta afirmação do Papa Francisco nos remete ao reconhecimento de que nenhuma espiritualidade privativa, isto é, a relação “Deus e eu somente”, faz justiça ao significado da Palavra de Deus. O exemplo de Jesus, suas palavras, seus gestos de amor e de compaixão pelos outros mostram que é necessário sair de si para o irmão. Aqui está, afirma o Papa Francisco, “um dos dois mandamentos principais que fundamentam toda a norma moral e como sinal mais claro para discernir sobre o caminho de crescimento espiritual em resposta à doação absolutamente gratuita de Deus” (EG 179). Todos necessitam reconhecer que esta íntima conexão entre anunciar o Evangelho e fazer o bem ao irmão brota inevitavelmente da natureza da Igreja. Assim como a Igreja é missionária por natureza, assim também, por natureza, a Igreja deve sempre ter caridade efetiva para com o próximo. Esta caridade compreende, assiste e promove.


O Papa Francisco reconhece que cada cristão e cada comunidade são chamados a ser instrumentos de Deus a serviço da libertação e da promoção dos pobres, para que possam integrar-se plenamente na sociedade (EG 187). A Palavra de Deus está cheia do testemunho de que Deus, o Bom Pai, ouve o clamor dos pobres. Desde a experiência do êxodo, paradigma da ação de libertação do pobre por parte de Deus, a Escritura apresenta Deus como o defensor dos mais fracos, dos pobres (cf. Ex 3,7-8.10; Jz 3,15; Dt 15,9; Eclo 4,6; 1Jo 3,17; Tg 5,4: os clamores...chegaram aos ouvidos do Senhor do universo). Para o Papa o imperativo de ouvir o clamor dos pobres faz-se carne em nós, quando no mais íntimo de nós mesmos nos comovemos à vista do sofrimento alheio. É uma atitude de misericórdia que se deve ter sempre, como atesta a própria Palavra de Deus. Esta tem uma mensagem tão clara, tão direta, tão simples e eloquente que nenhuma hermenêutica (interpretação) eclesial tem o direito de relativizar (cf. EG 194).


É uma exigência que a Igreja reconheceu como “derivada da própria obra libertadora da graça em cada um de nós”, pois como afirma Papa Francisco: “não se trata de uma missão reservada apenas a alguns”. Toda a Igreja é chamada a ser guiada pelo Evangelho da Misericórdia, pela solidariedade.


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